quarta-feira, fevereiro 09, 2005
O veneno que desfigurou Iuchtchenko
As dioxinas são uma família de 75 moléculas, das quais 7 são tóxicas para o homem. A mais tóxica de todas é a dioxina de Seveso, tristemente celebrizada pelo agente laranja usado pelos americanos na guerra do Vietname. O seu nome ficou associado a um acidente ocorrido em Julho de 1976, numa fábrica de produtos químicos da Roche, em Itália. Este acidente provocou a emissão duma nuvem de gases tóxicos, com uma alta proporção de dioxinas, provocando a contaminação dos solos e das casas, e levando à evacuação dos 736 habitantes da localidade de Seveso. Mais de 3 mil animais morreram e cerca de 80 mil foram sacrificados, para impedir a introdução da dioxina na cadeia alimentar.
Vem isto a propósito do envenenamento de que foi vítima Viktor Iuchtchenko em plena campanha eleitoral para as eleições presidenciais ucranianas, nas quais acabou por alcançar a vitória, arrancada a ferros, na “terceira” volta.
Durante toda a campanha eleitoral, Viktor Iuchtchenko ostentou a sua face desfigurada pela dioxina como um símbolo de um homem determinado, que ninguém iria conseguir abater, nem mesmo um veneno, por mais tóxico que fosse. Hoje, consagrado presidente vitorioso, Iuchtchenko quer recuperar a sua face normal e, depois de ter tentado as clínicas austríacas, volta-se agora para a Suíça, onde o professor Renato Panizzon vai tentar, não só restituir-lhe a sua face desestigmatizada, mas também descontaminar-lhe os olhos, o fígado e o conjunto dos aparelhos digestivo, nervoso e sanguíneo.
A tarefa não vai ser fácil, uma vez que a dioxina é lipófila, isto é, armazena-se nas gorduras. Para além disso, tem uma meia-vida de dez anos, o que significa que, daqui a dez anos, haverá ainda metade da dose do veneno no corpo da vítima.
O tratamento de Iuchtchenko vai pois durar pelo menos vinte anos, até que a dioxina seja definitivamente eliminada pelo organismo.
:: enviado por JAM :: 2/09/2005 09:34:00 da tarde :: início ::