terça-feira, novembro 08, 2005

O último a rir...

Os editoriais dos jornais americanos exaltam o sentimento anti-francês, perante as agitações nos arredores de Paris:

“Há apenas dois meses, os franceses assistiam fascinados às cenas de anarquia e de pilhagem em Nova Orleães após a passagem do Katrina. Hoje, as imagens provenientes dos subúrbios do Hexágono vêm lembrar à França que também ela possui uma classe pobre.”
New York Times

“Os franceses foram lestos a apontar os problemas de pobreza, de discriminação e de incompetência dos poderes públicos americanos a seguir à passagem do furacão Katrina, mas enfrentam exactamente as mesmas dificuldades no seu próprio território.”
USA Today

“Os Estados Unidos têm que fazer tudo para conservar a eficácia do seu sistema de integração cultural e económica dos imigrantes. No entanto, hoje não é nos Estados Unidos que arde o fogo da desintegração, mas sim na França de Nicolas Sarkozy.”
Los Angeles Times

Um país que se considera a pátria dos direitos humanos e o santuário de um modelo social generoso mostra-se, aos olhos de todos, incapaz de assegurar as condições de vida dignas a jovens franceses, cujos avós imigrantes ajudaram a construir os “trinta gloriosos” , e que têm como único horizonte o desemprego, a retrocesso tribal, o racismo.
Ao décimo segundo dia dos tumultos dos arrabaldes de Paris, vários jornais lembraram a célebre frase proferida por François Miterrand, em 1990, a propósito desses mesmos arrabaldes:
“Que pode esperar um jovem que nasce num bairro sem alma, que vive num prédio feio, no meio de outras fealdades, de paredes cinzentas, numa paisagem cinzenta, para uma vida cinzenta, tendo à sua volta uma sociedade que prefere desviar o olhar e que só intervém quando é preciso zangar-se e proibir?”

© desenho de Patrick Chappatte