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quarta-feira, maio 02, 2007

Caça às bruxas

As revoluções têm duas fases: a luta pela liberdade e a luta pelo poder. A primeira extrai dos homens o que eles têm de melhor: o valor, a honestidade e a fraternidade. A segunda, o pior: a inveja, a violência, a desconfiança e o desejo de vingança. Na Polónia de hoje, bastaram dois anos para que o Estado fosse transformado pelo poder num feudo dos partidos que a governam. A segunda fase da revolução — a luta pelo poder — tem o semblante dos frustrados. Desde a queda do comunismo, nunca se sentiu com tanta força a voz da comunidade universitária cujos protestos sempre anunciaram a rebelião da sociedade, a rejeição firme da política do poder.
Mas, porque razão governa hoje na Polónia uma coligação integrada por revanchistas que pertenceram ao Solidarność, aventureiros provincianos nascidos do comunismo, chauvinistas, xenófobos e anti-semitas, juntamente com os círculos clericais da Rádio Maria?
Entre os frustrados, há combatentes da revolução pacífica do Solidariedade que pensavam que a derrota da ditadura equivaleria ao seu próprio triunfo pessoal. Não foi assim e muita gente sentiu-se enganada. Para além disso, os comunistas não foram castigados e os activistas do Solidariedade não foram premiados. Muitos deles sentiram-se rejeitados e esse sentimento gerou ódio, rancor e desejo de vingança.
O Parlamento aprovou uma lei sobre a verificação das biografias que afecta 700.000 cidadãos. Os governantes prometeram que a Polónia recuperaria assim a dignidade e a moral, só que a verificação de tanta gente requereria pelo menos 17 anos e isso significa que, durante esse tempo, muitos cidadãos não poderiam dormir, ante o medo de serem acusados de terem sido coniventes com a ditadura.
Os cidadãos deverão confessar se colaboraram ou não com a polícia secreta comunista, sob pena de perderem os respectivos empregos e serem privados do direito de exercerem a sua profissão durante 10 anos. Muitos — como Bronislaw Geremek (que, em 2004, esteve muito perto de ser eleito Presidente do Parlamento Europeu) — anunciaram que não apresentarão a exigida confissão... e Ghandi voltou a ser o herói da desobediência cidadã.

Adam Michnik, escritor polaco, El País, 2 de Maio. O artigo integral (traduzido em espanhol) aqui.

:: enviado por JAM :: 5/02/2007 10:57:00 da tarde :: início ::
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