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sexta-feira, agosto 27, 2004

QUO VADIS, PORTUGAL?

Quando o primeiro-ministro Mário Soares anunciou, no início da década de 1980, que os portugueses tinham de “apertar o cinto” se queriam entrar na então chamada CEE, a população em geral encarou este sacrifício como um investimento no futuro.

Quem olhar hoje para os números leva com um balde cheio de pessimismo por cima da cabeça. Se Portugal estava bem implantado em 15º lugar da Europa dos 15, meses depois da adesão dos novos dez membros, já conseguiu deslizar-se para 17º lugar em termos de salário (uma média de 1. 125 € por mês) e também em termos de poder de compra, igual a Malta e atrás de Grécia e Chipre. Quanto ao desemprego, só no período de Janeiro de 2002 a Abril de 2003 (em 16 meses) o desemprego em Portugal aumentou em 73,8% (ao passar de 4,2% para 7,3%).

Em relação aos outros países da UE, os portugueses estão entre os mais sacrificados, trabalhando uma média de 40,1 horas por semana, representando o 9º lugar, enquanto os preços nos supermercados estão entre os mais altos. Enfim, trabalhar mais, receber menos, ter menor poder de compra e ver o país a descer anualmente na tabela classificativa da “primeira liga” da Europa, eis a triste sina de Portugal e dos portugueses.

No entanto, Portugal tem inegáveis qualidades, que proporcionaram a sua independência como estado soberano. Por alguma razão Portugal é um estado independente ao contrário da Escócia ou da Catalunha.

Comparando o Portugal de 1986 com o Portugal de hoje, a enorme divisão entre cidade e campo desapareceu com a substancial melhoria das redes de auto-estradas e de transportes públicos. Quando há 20 anos se levava quase um dia de viagem tortuosa para chegar a alguns lugares do interior, hoje em dia isso faz-se em poucas horas. Poucas são as aldeias que não têm electricidade ou redes telefónicas, de saneamento ou de abastecimento de água.

No entanto, com tanta melhoria, o que falhou? A resposta é muito simples: ausência de capacidade de liderança política, o que quer dizer também incompetência e falta de planeamento. Perguntar a um português o que quer dizer “ordenamento do território” provoca normalmente um encolher dos ombros.

Quer dizer “planeamento do espaço nacional”. Para fazer planos, é preciso organização. Para organizar é preciso comunicar e é precisamente aqui onde Portugal tem falhado rotunda e completamente. Para fazer um plano nacional, é preciso envolver todos os sectores – privado e público, governo e municípios, associações de residentes e classe empresarial. Para organizar, é preciso formular uma estrutura que abranja mais do que uma legislatura. Para comunicar, é preciso ter uma atitude democrática.

Infelizmente, colectivamente, a classe governante de Portugal não tem nenhum destes atributos. A meta é vencer as próximas eleições, colocar os amigos e familiares em lugares de destaque e tentar aproveitar ao máximo da posição, mantendo em aberto sempre um lugar profissional com um salário bem acima da média para tempos de travessia do deserto político. Neste cenário, não faz sentido comunicar com aqueles que estão fora do mesmo círculo político. Sem comunicação, não há organização e, sem organização, não há plano.

Portugal poderá servir de exemplo para os novos estados membros a Leste, ... exemplo a não seguir.


:: enviado por JAM :: 8/27/2004 09:19:00 da tarde :: início ::
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