Em 1967, neste mesmo dia, Christiaan Barnard realizava com sucesso o primeiro transplante de coração. Abria-se uma era de esperança para todos nós. Mudar de coração, de ânimo, de ritmo, de sentir, pensavam alguns. Vimos até comédias em que o transplante transferia características do dador. Com os povos a coisa fia mais fino. Não há drogas que evitem as rejeições. E bem dava jeito renovar o coração português, envelhecido por oito séculos de acantonamento neste cantinho à beira mar plantado. Acantonamento só interrompido pela saga marítima e pela diáspora causada pelas muitas e diversas fomes.

John Kenneth Galbraith é frequentemente citado como tendo afirmado que “a economia é uma forma extremamente útil de emprego para os economistas.” Como não sou economista fico perplexo perante as múltiplas opiniões acerca da conveniência da aprovação, ou não, do Orçamento para 2005. E da relação entre a economia e as decisões do senhor presidente. Se a condição para manter o governo era continuidade de políticas, porquê querer que se aprove um orçamento que não só não agrada à plebe, mas também não é do agrado do capital? Que o governo era um descalabro, muitos estamos de acordo, mas será que um governo destes é capaz de produzir um orçamento aceitável? Enfim, quem viver verá.

Pena que não se transplantem os corações dos povos, com a nossa provecta idade talvez viesse a calhar.