BRITEIROS: Notas da campanha eleitoral <$BlogRSDUrl$>








sábado, fevereiro 19, 2005

Notas da campanha eleitoral

Desde que o Presidente dissolveu a Assembleia da Republica até às eleições de Domingo passaram mais de 70 dias. Continuo sem perceber porque é que em Portugal tudo tem de ser tão demorado. Queremos ser modernos mas continuamos enredados em formalismos do sec. XVIII.
Acabou ontem a campanha oficial e apesar de hoje ser dia de reflexão creio que ainda se pode falar de eleições (não encontrei nada na lei eleitoral que abrangesse os Blogs).
A menos que aconteça algo de extraordinário – e que leve ao encerramento por incompetência de todas as empresas de sondagens – os resultados são previsíveis. Restam algumas dúvidas interessantes – e importantes – em relação à maioria absoluta do PS, à dimensão do descalabro do PSD e ao nível de votação dos outros partidos parlamentares.
Nos moldes em que se realiza, dificilmente uma campanha eleitoral poderá esclarecer alguém. Servirá, quanto muito, para modificar esse conceito complexo chamado confiança que se traduz no depositar em alguém as nossas esperanças para que seja capaz de criar condições que nos possam melhorar a vida. Uma sociedade de informação onde as noticias se atropelam umas às outras e onde a reacção tem de ser imediata e curta, é incompatível com qualquer discussão séria e aprofundada sobre qualquer assunto. O que fica são as frases de Marketing, os sound-bites e os banhos de multidão. Forçosamente as soluções apresentadas terão que ser simplistas ou vagas. Nesse aspecto, esta campanha não foi diferente de outras. Apesar de tudo, creio que houve alguns pontos interessantes a merecerem outras discussões. Ficam aqui algumas notas rápidas:
Maioria absoluta – As maiorias absolutas não se pedem nem se exigem. No nosso sistema político, as maiorias absolutas obtêm-se porque, numa determinada conjuntura, a pessoas decidem, individualmente, votar mais em determinado partido. Tão simples quanto isso. Sendo completamente irresponsável recusar governar porque não se teve uma maioria absoluta, o pedido soa mal. Numa democracia avançada mesmo um partido maioritário deveria tentar compromissos com outras forças politicas em assuntos fundamentais para o país.
Os bons e os maus políticos – Mais uma evidência retumbante dos nossos “pensadores”. Há bons e maus políticos como há bons e maus médicos ou futebolistas ou qualquer outra profissão. Os bons políticos nunca afastarão os maus políticos e vice-versa. Mais a mais o conceito é relativo. Cabe às pessoas, pelo voto, decidir quem são os maus e os bons. Na verdade na maior parte das vezes há apenas menos bons e menos maus.
Bloco de Esquerda – Desde que o Bloco de Esquerda emergiu no sistema partidário que tenho um certo problema com este partido. As causas que representa são simpáticas, consigo identificar-me sem grandes problemas com a maioria delas, são apresentadas de forma eficaz mas incomoda-me um certo concentrado de “politicamente correcto”. O mundo muda e nós mudamos porque damos ideias, que provocam discussões, que provocam reacções e que por sua vez nos fazem mudar. Não há nenhuma opinião que não seja válida, não há nenhuma verdade cristalizada. No meu caso, admito que esta embirração deve ter um pouco a ver com o facto de ter conhecido alguns dos dirigentes do BE noutras “guerras” já longínquas e de não estar convencido que tenham mudado assim tanto.
Comícios – Posso entender que se façam alguns comícios, não consigo compreender porque se fazem 3, 4 comícios todos os dias. Admito que estas peças teatrais tenham que ser feitas para poder passar na TV mas repetir continuamente as mesmas ideias e frases não anulará o efeito pretendido? Esclarecer o quê se os assistentes são sempre os mesmos? Desafio qualquer um a que me apresente alguém que tenha assistido na sua cidade aos comícios de todos os partidos a fim de se esclarecer.
Programas Eleitorais – Estou convencido que os únicos leitores atentos dos programas eleitorais são os adversários políticos. Em geral os programas eleitorais apenas servem para os adversários apontarem contradições e lacunas. Continua a ser um mistério para mim o porquê de se teimar em fazer resmas de páginas que a maioria da população não vai ler. Para usar um palavrão inglês, nunca ouviram falar de “Executive Summary” ?
Debates – Os debates ilustram bem o que se entende hoje por informação. Dois minutos de frases “flash” numa espécie de combate de boxe em que se tenta o KO mas na maioria das vezes só se ganha aos pontos.
PCP – Bem ... o PCP é o PCP. Que dizer de um partido que conseguiu, com um certo sucesso, mudar de uma imagem pré-histórica para uma imagem mais genuinamente popular e próxima dos sectores que quer representar e ao mesmo afirmar, sem estremecer, que “o fim da União Soviética foi o pior que podia ter acontecido aos trabalhadores” ?
PS – O PS, com ou sem maioria absoluta, será o grande vencedor destas eleições. Vai ter o que nunca sonhou ter tão cedo. Já não tenho tanto a certeza se saberá o que fazer com esta vitória. Mesmo que tente dar algum beneficio de duvida a José Sócrates, vejo perfilaram-se os Pinas Moura e os Antónios Costa de outras oportunidades perdidas. Não é este PS que me faz sonhar que a política pode ser diferente.

Não vivo actualmente em Portugal mas continuo a ter a minha familia e os meus amigos no país. Conheço quem esteja desempregado, conheço quem viva mal, conheço quem se desinteressou. Seria com enorme tristeza que continuaria a ver o meu País governado por estes fenómenos do populismo pós-moderno. Sinto o mesmo embaraço que os meus amigos italianos quando me falam das acções e palavras de Berlusconi.
Graças à extraordinária eficiência dos nossos serviços consulares (parece que o passaporte não serve para a inscrição, tem de ser o BI !?) não me pude inscrever para votar. Tão pouco poderei estar em Portugal amanhã pelo que irei reforçar o contigente dos abstencionistas. Lamento, mas não considero que seja muito grave. É certo que tenho alguns problemas de consciência na medida em que parece quase obsceno não votar sabendo que há países onde as pessoas arriscam a vida para o fazer. Mas tudo é relativo. Não creio que a Democracia portuguesa corra perigo se eu não votar amanhã.
Também não faço nenhum apelo à abstenção, se estivesse em Portugal iria votar. Provavelmente em branco. E daí talvez não. Apesar de tudo, entre o folclore Jet-set ou a pose de Estado arranjada à pressa e o desconhecido, acho que prefiro o último.

:: enviado por U18 Team :: 2/19/2005 06:18:00 da tarde :: início ::
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