quinta-feira, junho 23, 2005
Domínio Público
O que têm em comum obras como o Cancioneiro, de Fernando Pessoa, a Antologia, de Antero de Quental, o Don Quijote, de Miguel de Cervantes, Les Fables, de Jean de La Fontaine ou a Anna Karenina, de León Tolstoy? São algumas das inúmeras obras de referência de vários autores da literatura portuguesa e universal oferecidas gratuitamente pelo Domínio Público, a biblioteca digital criada e mantida pelo governo federal brasileiro.
Foi aí que fomos encontrar este excelente texto, extraído de As Farpas, de Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz, de Janeiro de 1878, evocativo de tempos bem mais recentes:
Que diferença há entre este partido na oposição e o partido actualmente no governo? É revolucionário? Não: é igualmente conservador. É racionalista? Não: é igualmente católico. É evolucionista? Não: é igualmente autoritário. [...] A única opinião que a oposição diz ter, e que ela acusa o governo de não professar, é a opinião abstracta da economia, da ordem, da moralidade e do progresso. Como porém todos os governos, qualquer que seja o partido de que eles procedam, têm sucessivamente caído do poder perante a acusação de não servirem o progresso, a moralidade, a ordem e a economia, devemos acreditar que, ou essas virtudes, que aliás não podem constituir princípios de programa, são comuns a todos os partidos ou não são especiais de partido nenhum.
Os partidos portanto não se diferenciam senão pelos nomes dos indivíduos mais ou menos numerosos de que eles se compõem. Nesta ausência completa de ideias contrapostas, o governo em Portugal, versando constantemente sobre si próprio, dá-nos o espectáculo de um organismo vivo, isolado na criação, alimentando-se na sua própria substância e digerindo-se pouco a pouco a si mesmo.
:: enviado por JAM :: 6/23/2005 10:57:00 da manhã :: início ::