terça-feira, junho 21, 2005
Ouvir os outros...
" Ó StôrLeio o post que o MBR publicou esta tarde. Não estou de acordo com o que escreve, e espero que seja esse também um dos catalizadores deste blog. Apenas quero sublinhar aquilo que, seguramente, MBR sabe bem e que não menciona:
1. As paupérrimas condições dos professores- desde salários (que não aumentam há dois anos), ao desterro a que são sujeitos com sucessivas deslocações;
2. Os constantes ataques a que têm sido sujeitos (já nem quero falar da vergonha que foi o concurso dos professores com Santana Lopes), mas já mesmo sob este Executivo: por exemplo, recordo as declarações de Sócrates, no princípio deste mês, em Setúbal, quando disse que era um privilégio dos docentes e um mau exemplo estes não terem turma distribuída no ano da aposentação. Ou Sócrates não sabe do que fala, ou foi puramente demagógico, pois trata-se apenas de medida da administração para evitar que a meio do ano as turmas tivessem que mudar de professor. Outra possibilidade era, como está na lei, que o Ministério tivesse de pagar mais 1/3 ao professor por estar a trabalhar depois de ter atingido as condições de aposentação, o que assim se evita.
Outro exemplo foi o que o Governo disse sobre os professores com horário zero, que, efectivamente, não têm turmas atribuídas mas têm um horário a tempo-inteiro.
3- A falta de reconhecimento do estatuto da classe dos professores, que, sendo uma profissão de alto desgaste e que idealmente exige uma actualização constante, não vêem reconhecidos direitos nem possibilidades, com as quais, afinal, beneficiariam os alunos, ou seja, todos nós. Embora não concorde com tudo o que está neste artigo de João Dias da Silva no DN , no final indica algumas questões importantes
4- Esta questão do timing da greve é uma balela. Os professores não deveriam ter feito greve na altura dos exames? E o Governo, deveria ter avançado com estas medidas na altura dos exames? Ou contava que isso fosse um "impeditivo" ?
5- Se a greve não teve maior impacto, isso deve-se às ameças que foram feitas aos professores, à estranha tolerância que alguns têm aos governos do PS, e à desunião da própria classe dos professores.
6- O país está numa situação complicada e sim, é preciso contenção. A ver vamos se paga só o do costume e até que ponto vão as medidas de aumento das receitas."
in http://bichos-carpinteiros.blogspot.com/
Um lampejo de lucidez num mar de oportunismo político. No entanto ligeiramente desactualizado, já não se diz stôr. Agora é só sôr...
:: enviado por RC :: 6/21/2005 08:27:00 da tarde :: início ::
1 comentário(s):
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Não tenho nada contra os professores, mas de facto irrita-me bastante quando ouço o argumento de que a profissão é altamente desgastante. Eu não sou professor e tenho uma profissão altamente desgastante, tal como a minha mulher também tem e acabamos por levar trabalho para casa mais vezes do que as que desejávamos.De , em junho 22, 2005 12:44 da tarde
No final da tarde temos que pagar a uma pessoa para ir buscar os miúdos à escola e esperar que um de nós chegue (raramente antes das 19H, porque todos os dias trabalhamos pelo menos 8H).
Temos vários amigos professores, no publico e no privado. Todos eles vão buscar os filhos ás escolas por volta das 16h para irem à natação, ao jardim, ou simplesmente não fazerem nada (que os miúdos tb precisam e é muito bom!). Claro que estes amigos levam trabalho para casa, mas à hora que eu janto com os meus já os deles estão a dormir……..
Quando nos juntamos todos (nós e os nossos amigos professores do publico e do privado) comentamos muitas vezes como é que uns podem dar aulas até aos 65 anos e outros não. Ao que parece o argumento de que os miúdos do publico são mais problemáticos do que os do privado, já não pega entre eles, pois cada uma deles tem sempre um episódio mais grave para contar ao outro.
Gostava ainda de dizer que só quem não conhece a realidade das escolas publicas é que pode argumentar que no último ano antes da reforma não se atribui turmas aos professores para evitar mudanças de professor……..só num ano o meu filho mudou de professora 4 vezes. No ensino secundário, não há nenhum miúdo que não conheça essa experiência todos os anos, e muitas vezes em mais do que uma disciplina. Com o excesso de professores que temos, não só seria desnecessário pagar o extra para o professor assegurar o fim do ano lectivo, como seria muito fácil contratar um professor a ganhar 1/3 a menos do que o que ganhava o que chegou ao fim da carreira.
Pela minha leitura deste processo parece-me que são os próprios professores que destroem a sua imagem. Talvez a opinião publica fosse mais concordante com as reivindicações dos professores, caso estes pusessem em 1º lugar as preocupações com os alunos ao invés das preocupações com os eu umbigo.