domingo, julho 03, 2005

Os Pilares da Terra

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O velho madrileno analfabeto, Justo Gallego Martínez, e o escritor galês Ken Follet nunca se conheceram, e quando este escreveu o best-seller “Os Pilares da Terra” certamente não imaginaria que o sonho do seu herói seria concretizado pelo velho Don Justo: construir uma catedral com as suas próprias mãos. Não um monumento em miniatura, não senhor: o edifício que se ergue em Mejorada del Campo, pequena localidade nos arredores de Madrid, estende-se sobre oito mil metros quadrados e a cúpula tem vinte cinco metros de altura. Don Justo, que foi agricultor na juventude, antes de ser pedreiro e depois arquitecto autodidacta, trabalha na sua obra há quarenta e quatro anos, seis dias por semana, dez horas por dia e quase sempre sozinho. Não fez estudos, nem teve histórias de amor, porque decidiu consagrar-se de corpo e alma à sua fé.
A Igreja nunca o ajudou, apesar de ele ter sempre anunciado que, quando estiver pronta, vai legar a sua catedral ao bispo de Madrid. O único gesto de solidariedade por parte do município é fecharem os olhos à sua obra. Don Justo não tem projecto nem nunca pediu a licença de construção, mas o presidente da câmara não tem a mínima intenção de lhe embargar ou demolir a obra, ciente de que se trata do seu principal património de atracção turística.
A meio caminho entre uma espécie de Gaudi rústico e os construtores medievais, esta confusa realidade arquitectónica, nascida da imaginação de um iletrado, não beneficia do apoio de banqueiros nem mecenas, como antigamente, mas conta, desde Maio passado, com o patrocínio da Aquarius, propriedade da Coca Cola, que associou a sua campanha publicitária à angariação de fundos para que Don Justo possa prosseguir o seu trabalho de formiga, pedra sobre pedra.