segunda-feira, novembro 06, 2006
O fardo
A partir daí, o julgamento de Saddam transformou-se numa teatro burlesco. Mas não se ficou par aí. Durante um ano, impediu-se o réu e os seus cúmplices de terem acesso a um conselheiro jurídico. Em seguida, assistimos à demissão do juiz. O nome avançado pelos juristas para o substituir foi rejeitado pelo governo. Depois, três advogados de Saddam foram assassinados. E, apesar de toda essa palhaçada ininterrupta, o processo continuou “normalmente”.
O tribunal decidiu condenar Saddam pela execução de 148 xiitas. Uma sentença que não teve nada a ver com o genocídio de Anfal, em que 180 mil curdos foram massacrados e gaseados com armas químicas. Uma sentença que também não teve nada a ver com o banho de sangue com que Saddam esmagou, nos meses subsequentes à primeira guerra do Golfo, a rebelião que curdos, no Norte do país, e xiitas, no Sul, haviam desencadeado, com os encorajamentos de George Bush pai. Também aí, milhares de pessoas foram mortos.
Agora, tudo indica que Saddam vai ser enforcado pela morte de 148 pessoas, encobrindo-se assim os verdadeiros genocídios de curdos e xiitas. Por que razões se pretende negar a esses povos o dever de memória? Por que razões se pretendem calar os outros crimes sangrentos que pontuaram a carreira de um dos piores ditadores do século XX? Por que razões foram assim escolhidas as prioridades do seu processo?
Até parece que alguém quer desembaraçar-se dele... o mais rapidamente possível.
:: enviado por JAM :: 11/06/2006 11:56:00 da tarde ::

