quarta-feira, fevereiro 28, 2007
Horrorosa rotina
Dezoito adolescentes foram mortos anteontem num campo de futebol a Leste de Bagdade. Na semana passada, quarenta estudantes, igualmente jovens, da Universidade de Mustansiriya — a mais antiga de Bagdade — foram feitos em pedaços pela acção de um terrorista suicida. Tais acções tornaram-se uma rotina: em cada dia que passa são mais horrorosas e normais.
A realidade diz-nos que a guerra no Iraque se trava actualmente no seio de uma densa bruma que apenas nos permite distinguir escassas sombras. Talvez sejam insurgentes, talvez sejam soldados. Talvez, como bem sabem os iraquianos, unidades correspondentes aos 120.000 mercenários — sim, 120 mil — que se calcula operam no Iraque ao serviço de numerosas organizações legais ou paralegais.
Esses pistoleiros a soldo — procedentes do Zimbabwe, Irlanda do Norte, Grã-bretanha, Estados Unidos, França, África do Sul e muitos outros países — constituem actualmente uma força armada quase igual a todo o contingente americano destacado no Iraque. Por conta de quem trabalham? Que normas seguem? A resposta à primeira pergunta pode ser: para todos. A resposta à segunda: nenhuma.
À margem destes grandes mistérios, que importaram ontem para o mundo as mortes de 18 adolescentes?
Em Janeiro de 2003 — pouco tempo antes da invasão americana do Iraque — John Le Carré escrevia no Times um diálogo que ficou célebre (e tristemente premonitório):
— Mas papá: Há pessoas que vão ser mortas?
— Ninguém que tu conheças, meu filho. São todos estrangeiros.
:: enviado por JAM :: 2/28/2007 02:35:00 da tarde :: início ::