sexta-feira, fevereiro 23, 2007
O paradoxo liberal
Tal como Charles Dickens tinha feito há 150 anos, na semana passada os media ingleses deram voz de alarme à situação negra das crianças da Grã-Bretanha. O jornal The Times, por exemplo, põe em título “As crianças da Grã-Bretanha são as mais infelizes do mundo ocidental”: Não só bebem, fumam e têm mais relações sexuais que as outras crianças, mas também avaliam o seu estado de saúde ao mais baixo nível, detestam a escola e apresentam-se como as que mais insatisfeitas se sentem com a vida.
A razão de todo este alvoroço é a publicação de um estudo promovido pela UNICEF que analisa 40 indicadores referentes ao período 2000-2003, incluindo o estado de pobreza, as relações familiares, a educação e a saúde. O estudo — o primeiro do género — compara as situações de 21 dos países mais industrializados, incluindo Portugal. O país onde as crianças são mais felizes é a Holanda. Portugal está em 17°, logo a seguir à França.
Escreve o The Times que a Grã-Bretanha deve o seu último lugar — em penúltimo lugar estão os Estados Unidos — à pobreza relativa das suas crianças, mas também à ausência de refeições partilhadas em família e à extrema desconfiança que elas sentem em relação aos colegas da escola. O estudo é o reflexo das políticas fracassadas dos últimos anos: “Entre 1979 e 1999, as crianças foram relativamente desprezadas, com um rápido aumento da taxa de pobreza infantil, de famílias inteiras no desemprego e do número de crianças não escolarizadas e sem formação”.
Para o comissário inglês para a infância, sir Albert Aynsley-Green, o estudo da UNICEF deveria conduzir a Grã-Bretanha a “interrogar-se sobre as causas fundamentais da sua incapacidade para criar crianças felizes e de boa saúde”.
Quanto a Portugal, um rápido lance de olhos pelos números permite constatar que bastaria termos um nível de educação como a Bélgica e um nível de saúde como a Espanha, para passarmos da posição dezassete para a oitava. Aviso à navegação!
:: enviado por JAM :: 2/23/2007 10:13:00 da manhã :: início ::
2 comentário(s):
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"Eu vejo a ironia do paradoxo da actual situação, pois ao contemplarmos a porcaria que fizemos e à medida que sabemos mais sobre os verdadeiros efeitos devastadores que o capitalismo teve sobre as nossas vidas e sobre todas as formas de vida com as quais partilhamos a nossa casa, viramo-nos mais para dentro, ajudados, no fundo ajudados e encorajados, por uma classe parasita de apologistas nos media, na legislação e na educação por exemplo, que transformaram os nossos desejos e gritos de socorro em auto-ódio e medo dos nossos caros humanos."De , em fevereiro 25, 2007 1:02 da manhã
de http://investigandoonovoimperialismo.blogs.sapo.pt/ -
"bebem, fumam e têm mais relações sexuais que as outras crianças,"...De , em fevereiro 25, 2007 1:09 da manhã
Exceptuando fumar (que nem todos gostam) são tudo coisas que fazem as delícias de muitos adultos.
Se calhar falta algo que lhes preencha a vazia e miserável vida que nos é premitido ter.