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domingo, maio 06, 2007

Um presidente como qualquer outro

Nicolas Sarkozy acaba de ser eleito novo presidente dos franceses. Não se espera que a França se converta num braseiro, nem que o apocalipse se abata sobre ela. Os subúrbios vão continuar calmos e toda a gente vai retomar tranquilamente a sua actividade normal.
Amanhã, 7 de Maio, a grande maioria dos franceses... ficará desiludida. Não nos referimos aos apoiantes de Ségolène, cuja amargura é hoje bem compreensível. Falamos, ao invés, daqueles que deram os seus votos a Sarkozy. E porque razão deveriam eles estar desiludidos, uma vez que o seu campeão acaba de obter uma vitória assim inequívoca?
Simplesmente porque a maior parte deles acabou de eleger um presidente que não vai cumprir as suas promessas. Nicolas Sarkozy passou toda a campanha a agitar os braços como um semáforo para enviar mensagens aos eleitores da Frente Nacional. “Identidade nacional”, “predeterminação dos pedófilos”, “herança de Maio de 68 que é preciso liquidar” são sinais fáceis de reconhecer pelo menos politizado dos eleitores.
É certo que uma vez eleito e arrumadas as legislativas, Sarkozy vai aplicar-se para fazer votar algumas leis simbólicas que não agradarão a toda a gente. Mas como poderá ele conciliar a cabra e a couve? Como poderá ele aplicar uma política ao mesmo tempo nacionalista e ultraliberal? Os nacionalistas são contra a Europa, Sarkozy não é contra. Os nacionalistas são contra a imigração, Sarkozy fala de imigração escolhida. Os nacionalistas detestam os Estados Unidos, Sarkozy não. Os reaccionários desejam ainda mais polícias, mas Sarkozy não vai ter meios para pôr um polícia ao lado de cada francês. Se quiser governar a França com mão de ferro, corre o risco de ofender os moderados do seu próprio campo que não sofrem da desordem, venha ela donde vier. Nem da injustiça. Esses seus eleitores — em grande parte bayrouistas — não vão querer uma guerra civil. Por entre os pais de alunos que se mobilizaram contra a expulsão de crianças estrangeiras no ano passado, havia simpatizantes da UMP.
Agora que foi eleito, Sarkozy será apenas um pouco mais nacionalista e liberal do que seria se fosse um presidente de esquerda. É tudo. Visto que vai ser um pouco mais presidente — logo, pragmático — que quando era candidato, não vai querer que os subúrbios recomecem a arder, nem que o movimento social se torne demasiado duro. Já teve uma amostra do que isso poderia ser, não precisa de mais. Sobretudo que, para chegar ao poder, foi ele quem semeou a tempestade. Só quem não conhece a História de França poderia ter interesse em precipitar as coisas. Aí, os extremos são inflamáveis como gasolina e uma França sob tensão lançaria por terra todo o seu projecto. Bastaria voltar a pensar-se com nostalgia no Maio de 68 e o resultado seria bem pior.
Diferenciar as pessoas honestas da escumalha, Paris da província, os que se levantam cedo dos preguiçosos, etc., foi um jogo que acabou hoje às 20h01. Amanhã, Sarkozy vai encontrar-se perante uma oposição mais unida que nunca. Uma oposição que bem lhe pode agradecer pois foi ele quem a reconstruiu. Rapidamente vai ter que governar um povo que, numa metade, lhe é ferozmente hostil e que, na outra metade, estará desiludido pois não se reconhecerá nas acções do seu novo chefe, que se terá tornado um presidente como qualquer outro.

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:: enviado por JAM :: 5/06/2007 10:13:00 da tarde :: início ::
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