domingo, outubro 03, 2004
SOCIEDADE DE PUDOR
Os azares de se pertencer a este mundo são muitas vezes estimulados por ideias que nos surgem a meio da noite. Pois não é que, para surpresa minha, ultimamente tenho acordado a meio da noite com ideias que me têm atormentado. A tal ponto isso acontece que me vejo forçado a levantar este velho esqueleto do confortável colchão, para as colocar por escrito.A última, tem a ver com o pudor que sentimos em dizer, e digo e afirmo, frontalmente, as verdades sobre o que somos, como povo, como nação e como cultura.
Eruditos trocam mimos entre eles. Jornalistas escrevem o que é vendável. Cronistas vão enchendo as páginas dos jornais com opiniões vãs sobre a sociedade civil. E ninguém, mas mesmo ninguém, tenta fazer uma análise aprofundada àquilo que realmente somos como pessoas enquanto pessoas.
O pudor de tocar em determinados assuntos é enorme. Temos pudor de mostrar realmente aquilo que pensamos dos outros. Escondemos as verdades que podem virar-se contra nós. Pudor de mostrarmos as nossas simpatias por este ou aquele. Somos desconfiados até dizer chega, basta de tanta hipócrisia! Temos pudor em acreditar que alguém nos queira fazer bem só pelo simples prazer de querer o bem. Sentimos um enorme pudor pela nossa condição de simples seres humanos. O que não compreendemos, nem vale a pena esforçarmo-nos para o compreender. E, meu Deus, não compreendemos um mundo de coisas! Não conseguimos desligar-nos de um passado negro e fechado. Mantemos os mesmos hábitos que já tinhamos em 1500, e trazemo-los agarrados às costas como se de uma maldição se tratasse, de um pequeno país limítrofe com ideias de grandeza e muita preguiça espalhada pelo meio. Não crescemos em mentalidade e praticalidade. Ficámos agarrados aos preconceitos do dia a dia; ao pudor de sabermos que somos pequenos e com pouca ou nenhuma capacidade para nos libertarmos.
A preocupação, agora, é a de descobrirmos quem é o culpado disto ou daquilo. Abandono escolar, de quem é a culpa? Sociedade civil com pouca instrução, de quem é a culpa? Pequena percentagem de pessoas com formação académica adequada, de quem é a culpa? Pouco respeito pela nação e desinteresse total pelo país, de quem é a culpa? Fugas às responsabilidades civis dos cidadãos, de quem é a culpa? Desrespeito pelos nossos Parques Naturais e pela maior riqueza de um país, a sua Floresta, de quem é a culpa? Indiferença ao que possa acontecer no futuro, de quem é a culpa? Falta de senso comum e de espírito de nação, de quem é a culpa? A ideia de que o Estado não é pessoa de bem, de quem é a culpa?
E assim não há possibilidade de avanço. Enquanto nos preocuparmos com a ridicularidade não podemos ir para a frente. Não sermos práticos e desligados do pormenor é uma das características que este nosso povinho tem em demasia. Este é, a meu ver, o maior problema da sociedade dos nossos dias. Enquanto vivermos olhando para o nosso umbigo e consumindo tudo o que de fora nos chega, não iremos a lado nenhum e cada vez mais estaremos na cauda de tudo.
A solução passa por uma grande revolução nos hábitos, usos e custumes do povo português. É preciso combater a mesquinhez, o diz que diz, o simplismo, a arrogância, o comodismo do deixa andar, a falta de interesse… E não é pela forma como se vêem os partidos políticos fazer a sua demagogia. Se tivermos de lutar, então lutemos.
Só nós, portugueses, temos o direito que nos é concedido pela nossa condição de o ser, de pôr termo a toda esta palhaçada política que nos atiram aos olhos.
ANDAM A BRINCAR COM PORTUGAL.
Para a frente com a vontade! Vontade de mudar! Paremos o país e gritemos ao mundo, libertem-nos da incompetência!
De uma vez por todas, sejamos capazes de fazer uma revolução a sério…
:: enviado por JS :: 10/03/2004 08:17:00 da manhã :: início ::