quarta-feira, novembro 10, 2004
De quem é a culpa da reeleição de Bush?
A culpa é dos franceses, que se opuseram à invasão do Iraque desde o primeiro minuto. O americano médio não está preparado para admitir a infalibilidade dos seus presidentes no que diz respeito ao policiamento do planeta.A culpa é dos ingleses, que não param de bater em Tony Blair pela comprovação da inexistência de armas químicas no Iraque. O americano médio não está preparado para admitir que o mundo estava certo, e o seu país errado.
A culpa é dos povos periféricos que apoiaram John Kerry como se estivesse em disputa a final de um Campeonato do Mundo. O americano médio não está preparado para aceitar a opinião do Terceiro Mundo quanto aos rumos da política do seu país.
A culpa é do Michael Moore, que ridicularizou George W. Bush de forma sensacional em Farenheit 9/11. O americano médio não está preparado para votar em nenhum candidato apoiado por radicais perigosos, inconsequentes e visivelmente antipatrióticos.
A culpa é do Festival de Cannes, que deixou a política falar mais alto que o cinema e deu o prémio do melhor filme a Farenheit 9/11. O americano médio não está preparado para aceitar com naturalidade piadinhas da comunidade artística internacional.
A culpa é da comunicação social que deixou vir a público as notícias sobre as cenas de sadismo militar americano naquela prisão do Iraque. O americano médio não está preparado para aceitar campanhas de desmoralização do seu Exército.
A culpa é dos gays e das lésbicas, que resolveram trazer para a rua o casamento homossexual, justamente no ano das eleições. O americano médio não está preparado para colocar na Presidência alguém que não tenha posições fundamentalistas em matéria de família e de reprodução humana.
Finalmente, a culpa é de John Kerry que, a exemplo de Al Gore na eleição anterior, teimou em se revelar mais inteligente, mais perspicaz e mais preparado que Bush. O americano médio não está preparado para escolher um presidente que pareça mais qualificado que o americano médio.
Ou seja, na situação actual dos Estados Unidos, se o Partido Democrata quiser eleger novamente um presidente do seu país, deve apresentar um candidato que seja abertamente beligerante, paranóico, imperialista e homofóbico.
Depois, uma vez eleito e no poder, basta que o presidente e o seu partido revejam todas as suas posições, uma a uma. Para o bem do povo e felicidade geral de todas as nações.
Artigo de opinião de Ricardo Freire na Revista Época.
:: enviado por JAM :: 11/10/2004 11:56:00 da manhã :: início ::