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sábado, dezembro 11, 2004

A complexidade de Sampaio

Os partidos de direita, os jornalistas de direita, os escribas dos blogs de direita e o cidadão português médio de direita espantam-se hoje com a manifesta incompreensão da complexa comunicação ao país feita ontem pelo nosso Presidente da República:

Jorge Sampaio decidiu dissolver a AR essencialmente devido aos sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações que contribuíram para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições, em geral. Foi essa sucessão que criou uma grave crise de credibilidade do Governo, a tal ponto que a persistência, e mesmo o agravamento, desta situação inviabilizou as indispensáveis garantias de recuperação da normalidade e tornou claro que a instabilidade ameaçava continuar, com sério dano para as instituições e para o país, que não pode perder mais tempo, nem adiar reformas.

Concordamos que é complexa. Por isso, para todos aqueles que não compreenderam as palavras do presidente Sampaio, aqui fica a nossa tradução:

O rol de disparates cometidos pelo Dr. Santana Lopes, e pela sua equipa, atingiu as raias do inimaginável. Para além das zaragatas, dos pinotes e das desavenças com a comunicação social, das sinistras demonstrações de despeito pelos adversários e dos mal encobertos azebres de inveja pelos companheiros de partido, o governo demostrou a mais repulsiva falta de grandeza, recorrendo, na compleição das suas debilidades, ao improviso, à artimanha e à mentira.
De tropeço em tropeço, de estatelamento em estatelamento, após quatro meses de pesadelo hilariante, de descoordenações, desmentidos e deslealdades sucessivas entre diferentes ministérios, com professores, previamente postos no desemprego e convidados depois a assessorar magistrados, passando por companheiros de partido a dar pontapés a um bebé prematuro na incubadora, o descrédito das instituições e o despudor que tomou de assalto a vida pública portuguesa, transformaram o país numa tragicomédia sem sentido.
O país está de rastos, a miséria alastra, milhares de pequenas e médias empresas estão à beira da falência, a educação é um descalabro, a saúde está num caos, a justiça é um arreganho, a segurança social estremece, a protecção civil pura e simplesmente não existe. E perante este cenário, que exigia um mínimo de serenidade e de unidade nacional, o que fez o Dr. Santana Lopes? Inventou inimigos em cada esquina. Viu nas recriminações dos companheiros, actos de hedionda traição. Escaramuçou, a torto e a direito, com o presidente Sampaio. Descarregou no próximo a responsabilidade de culpas que só a ele pertenciam. Enfim, encetou uma grosseira e trôpega caminhada para a desgraça.

É preciso mais?

Se mesmo assim ainda não compreendeu, leia lentamente, em rodapé desta notícia do Público, a versão integral da mensagem ao país do Presidente da República.

:: enviado por JAM :: 12/11/2004 03:44:00 da tarde :: início ::
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