domingo, dezembro 05, 2004

A oportunidade das eleições antecipadas

Na altura em que, na sequência do abandono de Durão Barroso, uma grande parte dos portugueses clamava por eleições antecipadas, o Briteiros ainda não existia. Ou, se já existia, eu ainda não fazia parte do grupo. O Presidente Sampaio foi então acusado de se ter vendido à direita, de se estar nas tintas para os portugueses e ainda de outras coisas piores que é melhor não repetir. A minha ideia, já nessa altura, era que Jorge Sampaio tinha tomado a decisão mais acertada, ao nomear Santana Lopes para Primeiro-ministro.

Ontem, deparei-me com um fórum no Jornal Digital em torno da questão : Concorda com a decisão de Jorge Sampaio em marcar eleições antecipadas? Apeteceu-me reagir e enviei um comentário que transcrevo aqui.
Confortado, acabo de ler um artigo de opinião no Público de hoje que, a propósito das relações conflituosas entre Durão e Santana, reza o seguinte:
A decisão do Presidente da República de não convocar eleições antecipadas em Julho favoreceu Durão Barroso e favoreceu a esquerda - embora, na altura, a esquerda não tenha percebido.
Se Jorge Sampaio tivesse convocado eleições em Julho, é provável que Santana Lopes e Paulo Portas saíssem legitimados pelo povo para governar por quatro anos. [...] se o PR tivesse dissolvido o Parlamento, onde havia uma maioria PSD-PP, teria dado todos os argumentos à vitimização Santana-Portas, um mar favorável para exímios marinheiros de campanhas eleitorais. Não aconteceu assim: Lopes foi “obrigado” a ir para o Governo da forma que menos lhe convinha (condicionado pelo barrosismo, pela sociedade civil e sem legitimidade popular) e, em quatro meses, foi o que se viu.
Como perceberam antes dos outros Durão Barroso e Jorge Sampaio, o mito populista de Santana Lopes tinha que morrer no pelourinho público, perante o delírio e os insultos da populaça. Pronto, acabou. A menos que...

... a menos que o povo português esteja atacado por alguma misteriosa doença que lhe afecte significativamente a memória.