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domingo, janeiro 30, 2005

Eleições sob tensões I

A delicada questão territorial

Chegou finalmente o grande dia das eleições gerais no Iraque, tão desejadas por Washington, e portadoras de sérios riscos para a unidade do país. A questão que se coloca, neste dia, é qual é afinal a posição dos Estados Unidos, a potência ocupante, perante os supostos riscos de desmembramento do Iraque em vários micro-Estados?
Oficialmente, Washington é pela unidade territorial e política do Iraque. Os partidos iraquianos participantes no escrutínio não dizem o contrário, sendo que não interessa a ninguém uma fragmentação do Iraque que levaria a uma crise regional impossível de controlar. Mas, no clima de violência actual, é enorme o risco de ver a lógica comunitarista sobrepor-se à lógica política, ou seja, os xiitas votarão nos partidos xiitas, os curdos votarão nos seus representantes curdos e os sunitas não fugirão e esta regra.
Farto do actual clima de violência, o iraquiano de base, independentemente das suas convicções etnico-religiosas, vive preocupado com questões mais terra a terra, como o fim da ocupação americana, a paz, o regresso do país ao normal ou a reconstrução do país. A estas aspirações, nem os discursos com uma forte conotação religiosa dos partidos em campanha, nem o facto de as eleições se realizarem sob ocupação (o que desde logo lhes tira toda a transparência), vão poder dar resposta.
Sem dúvida, muitos iraquianos participarão nestas eleições, mas outros tantos irão abster-se. Não porque receiem as ameaças islamistas, mas porque os partidos que concorrem às eleições, suspeitos (com ou sem razão), de serem as marionetas de Washington, não vão estar em posição de satisfazer as suas aspirações.
Para Salim Lone, antigo conselheiro de Sérgio Vieira de Mello, estas eleições são uma farsa e a única esperança de paz que ainda resta é que os EU aceitem deixar o Iraque para dar o lugar a uma força internacional sob a égide da ONU. Só assim se mostrará aos iraquianos que o único objectivo é ajudá-los a formar uma democracia autêntica.
É enorme a amargura daqueles que todas as manhãs fazem o balanço dos seus mortos no Iraque mas, pior ainda, seria, numa destas manhãs, terem de registar a queda de um morto chamado Iraque.

Leia também Bagdad: Jardins Suspensos.

:: enviado por JAM :: 1/30/2005 01:14:00 da manhã :: início ::
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