BRITEIROS: A teoria da bicicleta <$BlogRSDUrl$>








terça-feira, maio 31, 2005

A teoria da bicicleta

O processo de integração europeia tem vindo, sobretudo depois de Maastricht, a basear-se na chamada teoria da bicicleta : para não cair, há que continuar a pedalar.
Esta teoria implica que nunca se pode parar pensar e, cada vez que há uma crise na chamada integração europeia, a resposta seja uma espécie de fuga para a frente propondo mais integração. A consequência é haver um fosso cada vez maior entre os que vão de bicicleta – as elites integracionistas (elites não em sentido pejorativo mas como característica sociológica) – e os que vão a pé – os outros.
O resultado do voto francês só pode surpreender por ter sido contra a quase unanimidade da classe dirigente – políticos, sindicatos, associações patronais – porque um voto deste género teria que acontecer, mais cedo ou mais tarde.
Já o disse aqui e repito, a integração europeia e a consequente perda de soberania só se pode fazer se for democrática. Em momento algum se colocou a questão de até onde os cidadãos europeus querem que chegue a integração: queremos uns Estados Unidos da Europa ou não ? queremos ser uma potência militar ou não ? queremos um Ministro que fale em nome de todos os países da UE ou não ? queremos um modelo social único ou não? Enquanto estas questões não forem discutidas e enquanto a “integração europeia” não provar que pode assegurar uma melhoria de vida a todos os cidadãos, podem continuar a pedalar que, quando olharem para trás, não vão ver ninguém.

Temo que será o que vai acontecer. Por essa Europa fora, assiste-se, da parte dos defensores da Constituição, a uma minimização do voto francês explicado por razões de política interna e pela “deficiente” explicação do que é a “Europa”. Percebe-se a ideia. Desta maneira prepara-se terreno para a repetição do referendo: se o “Não” ganhou por razões de política interna, mudando as condições políticas mudar-se-ia o sentido de voto. Ao mesmo tempo, explicar-se-ia “melhor” a Europa.
Vamos lá ver se nos entendemos. Por que outra razão queriam que as pessoas votassem se não pela análise das suas condições de vida e perspectivas ? pelos méritos literários da Constituição? ou pela poesia do texto ?
Se a Constituição não tem nada que ver com políticas económicas que criaram 20 milhões de desempregados e 50 milhões de pobres, com taxas de crescimento de 1%, com governos que já não controlam a política monetária, com mais de 50% da legislação produzida por uma instituição afastada dos cidadãos e controlada por um Tribunal Europeu muito pouco independente, então tem a ver com quê ? com a Bíblia ?

:: enviado por U18 Team :: 5/31/2005 01:44:00 da tarde :: início ::
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