sábado, maio 07, 2005

Timor Lorosae precisa de paz

Durante a ocupação indonésia, a Igreja Católica fez muito para ajudar – quer física quer espiritualmente – o movimento revolucionário de Timor Leste. A Igreja estava à frente de uma rede organizada de homens e mulheres que davam guarida aos rebeldes e simpatizantes, liderados por Xanana Gusmão, encorajando-os na luta pela libertação. Os nomes do bispo Ximenes Belo e de Ramos Horta ficaram intimamente ligados, pelo prémio Nobel, a essa luta vitoriosa da resistência timorense.
Mas agora que a independência foi conseguida, a Igreja local assumiu o seu papel “normal” de campeã da moral conservadora e guardiã do seu próprio poder e influência. Para isso, não hesitou em organizar os protestos de rua contra o governo, esquecendo os seus heróis de outrora e fazendo uma sucessão de exigências políticas, em perfeito atropelo do normal funcionamento das instituições democráticas e quase colocando o país à beira de uma guerra civil.
A Igreja católica é uma instituição com uma agenda, princípios e preceitos próprios. A Igreja de Timor não só quis um Timor Leste livre, mas também um Timor Leste onde pudesse desempenhar o papel principal na vida do povo timorense, interferindo activamente nos assuntos não-religiosos e seculares como o planeamento familiar ou o aborto. A educação religiosa obrigatória constitui o garante dessa influência e dessa interferência.
O conflito parece ter acalmado hoje, com a assinatura da chamada Declaração Conjunta, mas o braço de ferro está lançado e o controle da ordem pública de Timor Leste corre o risco de continuar nas mãos da Igreja, mais do que nas dos próprios responsáveis policiais.
Curiosamente, este activismo político por parte da Igreja católica timorense não parece ter sido visto com grande preocupação por parte da comunidade internacional, incluindo Portugal. Como reagiriam, no entanto, se estes mesmos acontecimentos tivessem tido lugar num país muçulmano, onde os manifestantes reclamassem a obrigatoriedade da educação islâmica?
Fundamentalismo religioso, sem dúvida...