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sábado, agosto 13, 2005

A retirada como estratégia

Historicamente, foi uma lógica defensiva que presidiu à colonização dos territórios conquistados em 1967. Dada a pequenez do território controlado pelo exército israelita, a colonização visava dar às fronteiras uma rede de posições que poderiam eventualmente servir de base de apoio às forças armadas. Os limites dessas preocupações de ordem estratégica foram depois levados ao excesso pelo avanço ideológico do Gush Emunim (movimento ultranacionalista religioso) com a ajuda eficaz do Likud desde a sua chegada ao poder em 1977. A mudança de lógica foi então radical: a terra, concebida como um meio, tornou-se desde essa altura um objectivo.
O actual primeiro ministro, Ariel Sharon, foi o principal artesão político da colonização quando era ministro da Agricultura e, mais tarde, da Habitação e das Infra-estruturas. A ironia da História faz com que o mesmo Sharon apareça hoje como um opositor dessa política. Mas, a verdadeira razão que levou Sharon a retirar da faixa de Gaza e das quatro colónias isoladas no Norte da Cisjordânia foi, sem dúvida, a pressão internacional. A retirada de Gaza vai permitir a Sharon ganhar tempo, sem fazer demasiadas concessões e sem nada ceder à velha lógica do controlo, uma vez que as fronteiras terrestres e marítimas, bem como o espaço aéreo de Gaza, vão continuar sob a alçada israelita.
Depois da retirada de Gaza e do Norte da Cisjordânia, nada vai mudar na Palestina. A colonização israelita, tal como foi formalizada por Ariel Sharon, vai continuar a traduzir-se pelos recortes territoriais, isolados uns dos outros, e pelo controlo das principais aglomerações palestinianas à beira das colónias, com vista a bloquear a sua expansão. Os três blocos, cuja anexação é agora exigida por Israel, à margem de qualquer negociação, inscrevem-se perfeitamente nesta lógica. A colónia de Ariel separa Naplusa e Ramallah; a de Maale Adumin isola a parte oriental de Jerusalém do seu hinterland palestiniano; Etzion e os seus prolongamentos (Efrat e Tekoa) cortam Belém de Hebron.
A disparidade é pois flagrante entre o novo discurso sobre o Estado palestiniano transmitido por Sharon e a inércia do projecto de colonização, que continua a produzir os seus efeitos devastadores sobre o território. Na Cisjordânia, a começar por Jerusalém-Leste, a colonização vai prosseguir o objectivo de impedir a concretização do Estado palestiniano, que a comunidade internacional tanto reclama.
Assim, ao deixar Gaza, Sharon vai só renunciar a uma ínfima e muito modesta parte do seu grande plano.

:: enviado por JAM :: 8/13/2005 01:18:00 da manhã :: início ::
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