domingo, setembro 18, 2005
Os debates televisivos
Os realizadores e bons jornalistas da SIC que orientaram os debates (por alguma razão ditos “moderadores” perante os presumíveis “extremismos” de quem debate) tiveram, desta vez, a inteligência e generosidade de deixá-los bulhar à vontade.
Dado o pouco a que se presta a televisão em matéria de discussão de ideias, é natural que a atenção, aflita à procura de um foco, se concentre no espectáculo nada elevado mas divertido dos mútuos assanhamentos da política. Daí que façam bem os jornalistas e realizadores em deixar chover as chapadas ao gosto dos pugilistas.
É um prazer verificar que toda a apregoada “complexidade” se reduz, em televisão, a isto “Mentira!”, grita um. “Verdade!”, reafirma o outro. “Não sabes nada disto!”, insiste o primeiro. “Sei sim senhor! Tu é que não sabes!”, responde o segundo.
Dantes, os moderadores eram repressivos e esta inescapável humanidade era desrespeitada. Agora podemos ver como um debate pode ser conduzido, por duas pessoas inteligentes e informadas, em estritos termos de infantário: “Cala-te!”, atira o canhoto. “Não me interrompas!”, protesta o direito. “Deixa-me falar!”, pede o azul, e logo vai o roxo: “Não deixo!”
É muito provável que, depois deles, não se fique com uma única ideia acerca dos candidatos. Mas fica-se com uma excelente ideia do que é a televisão.
Trechos de um inspirado artigo de Miguel Esteves Cardoso.
:: enviado por JAM :: 9/18/2005 11:37:00 da manhã :: início ::
1 comentário(s):
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Miguel Esteves Cardoso tem razão mas..há sempre um mas!!!De , em setembro 18, 2005 2:11 da tarde
Quem viu o debate entre Carmona Rodrigues e Ruben de Carvalho perceberá!!!
Este último, discordando do primeiro,nunca levou a discussão para o "pessoal",para a "discussão de primas-donas"!!!
Mas isto para a comunicação social que temos é irrelevante.
Infelizmente para o País que temos, temo que também!!!