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segunda-feira, julho 10, 2006

Já podemos retomar uma vida normal

Acabou o Mundial e já podemos retomar uma vida normal. Antes, porém, registo o que me ficou deste mês de emoções fortes, bandeiras à janela e bolas na trave.
Não, não vou falar do que se passou “entre as quatro linhas” (para os menos atentos, quer dizer terreno de futebol em futebolês) porque sou só treinador de bancada e este blog não é suposto ser sobre remates de segunda linha, dinâmicas de ataque ou de compactação das linhas e todos esses conceitos que fazem as delicias dos nossos comentadores desportivos. Além disso, quanto mais vejo futebol menos entendo de foras de jogo, de cartões amarelos para quem tira a camisola a festejar um golo, de penalties onde não há falta ou de agressões que são “faltas profissionais”.
Tão pouco percebo um jogo em que o melhor jogador da competição acaba a carreira à cabeçada a um adversário ou em que os campeões do mundo são de um país onde os jogos e os campeonatos são combinados entre dirigentes, árbitros e jogadores.
(Por estas e por outras, e apesar de gostar muito de futebol, o meu desporto é cada vez mais o Rugby. Ao menos os batoteiros estão todos no hospital …)
Também não quero abordar o tema da importância do futebol. Afinal de contas, é apenas um jogo visto por biliões de pessoas, com paradas (ou pateadas) triunfais nos centros das cidades e jogadores recebidos e condecorados por chefes de Estado.

O que realmente achei interessante neste Mundial, sobretudo a partir dos quartos de final, é maneira como nos vemos uns aos outros nesta Europa que se quer unida e solidária. Assim, lendo a imprensa europeia dos últimos quinze dias, vendo várias televisões e falando com amigos de diferentes nacionalidades, fiquei a saber que:
Os holandeses e os ingleses não nos podem ver. Os franceses não suportam os italianos. Nós não podemos com os franceses e não queremos saber dos ingleses. Os alemães não gostam de italianos, de holandeses nem de ingleses bêbados. Os espanhóis e os italianos estão fartos dos franceses. O pessoal de leste não joga muito bem à bola e está-se nas tintas para as discussões dos outros. Os gregos estão fora disto e acham todos os outros inferiores porque são eles o campeão europeu. Os holandeses não gostam de alemães. Os suíços são neutros. Os franceses já não aturam os italianos e não gostam de portugueses ou de espanhóis. Os escandinavos estão amuados e não falam com ninguém. Os belgas interrogam-se se não seria melhor ter duas equipas.
Mais, fiquei ainda a saber que os portugueses são violentos e simulados, os franceses não sabem ganhar nem perder, os ingleses são bêbados e não têm fair-play, os italianos são arrogantes e estão sempre a insultar as irmãs e as mães dos outros, os espanhóis têm muita garganta e mais nada, os suíços são aborrecidos, os alemães são organizados mas pouco desenrascados e os de leste não se sabe nada deles.
Convenhamos que não está nada mal como aprendizagem depois de um mês de convívio entre povos, uma média de 12 horas diárias de televisão a falar de nós e dos outros e uma grande festa dos adeptos de futebol.
A União Europeia promete… ou será que apenas retomamos uma vida normal?

:: enviado por U18 Team :: 7/10/2006 09:54:00 da tarde :: início ::
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