quarta-feira, dezembro 20, 2006
Afinal, quem é a personalidade do ano da TIME?
A revista TIME decidiu escolher para personalidade do ano 2006, não um indivíduo famoso, mas uma colectividade de indivíduos anónimos: os internautas da rede global, a que a TIME chamou apenas... tu.Mas, muito embora o alcance da revolução cultural que constituiu a invenção da Internet seja enorme e possa ser comparável aquele que obtiveram a imprensa, o cinema ou a televisão, ainda é muito cedo para se conseguir entrever toda a complexidade da teia formada por todos esses indivíduos agora agraciados. O acesso à Internet ainda não está ao alcance de todos. A maioria das pessoas está impedida de aceder à rede, seja por razões de pobreza, de analfabetismo ou da falta de liberdades políticas. Os Estados Unidos, o Canadá, a Europa Ocidental, o Japão e a Austrália concentram a grande maioria dos internautas. Em alguns países, como a China, a pertinaz censura governamental, com a dócil colaboração de certas empresas mundiais, transformou a utopia comunicativa da Internet numa triste caricatura de si mesma. Para além disso, nas sociedades democráticas e desenvolvidas, os cidadãos ligados à rede constituem uma nova forma de elite. Poder-se-á, por isso, falar em ciberdemocracia, como se fala em e-business, e-banking, e-learning, ou em cibersexo?
O livro Electronic Voting and Democracy, publicado em 2004, chama a atenção para a necessidade de se repensarem os aspectos centrais da democracia liberal antes de se ensaiarem sistemas de votação electrónica à distância em grande escala. Colocam-se, por exemplo, as questões da fiabilidade, da segurança e da confidencialidade do voto ou das maneiras de alargar essas tecnologias a todas as camadas da população, de modo a evitar que a fractura tecnológica se traduza numa nova forma de discriminação.
Enquanto esperamos por todos esses necessários desenvolvimentos, uma coisa é certa: são já evidentes as alterações provocadas na política tradicional pela rapidez e a facilidade com que circulam as informações multiplicadas na rede. Uma das maiores mudanças tem a ver com a nossa identidade, recreada em cada instante na rede.
Quem é na realidade esse tu que a TIME elege como personalidade do ano?
:: enviado por JAM :: 12/20/2006 01:01:00 da manhã :: início ::
2 comentário(s):
-
Afinal havia outro...!!! Só que não agradava à "democrática" Time!!!De ja, em dezembro 20, 2006 4:03 da tarde
-
A escolha da TIME não é mais do que uma astúcia airosa para não ter que escolher uma verdadeira personalidade, numa altura em que a vida política americana está tão dividida que não dá para saber para que lado poderá pender nos próximos tempos.De , em dezembro 20, 2006 7:57 da tarde
A TIME nunca pecou por excesso de agudeza de espírito na escolha das suas personalidades do ano. Por entre as suas escolhas, em cerca de 80 anos, contam-se figuras de duvidoso consenso, como Hitler, Estaline e o aiatola Komeiny.
Talvez, com a escolha deste ano, a TIME pretenda prestar homenagem ao mundo individualista em que vivemos, governado por pobres diabos, onde só o êxito imediato conta, e onde, por conseguinte, o que realmente interessa é mesmo... “eu”.
Ou seja, por detrás do “tu” da TIME, está o epitáfio: “salve-se quem puder”.