domingo, fevereiro 04, 2007
Sim, porque não
in O Ilhavense em 01/02/2007.............
Sim, porque não
Vamos todos ser chamados ao elevado momento cívico e democrático de uma votação em referendo. Trata-se de decidir acerca da despenalização do aborto até às dez semanas de gravidez. Vão, a pouco e pouco, sendo alinhados argumentos, vão sendo contadas as espingardas e, por convicção ou por conveniência, todos os habituais protagonistas da nossa política se vão associando a um campo ou a outro. Uns pelo sim, outros pelo não, outros pelo sim pelo não.
Por um lado teremos um mês em que o nosso minguante poder de compra e qualidade de vida deixarão de ser o tema principal, por outro será o mês em que pelo templo da nossa democracia os habituais pregoeiros do tudo que é quase nada se farão ouvir.
Votarei sim porque não aceito que nesta “ditosa pátria minha amada” se perpetue a prática do aborto clandestino em condições que nos fazem recuar à Idade Média, quando ferreiros e barbeiros praticavam uma cirurgia baseada em sangueira farta e morte frequente.
Votarei sim porque não aceito que, em pleno século XXI, tantas adolescentes portuguesas sejam atiradas para as malhas da ilegalidade e do lado sombrio da vida, sem um gesto de ajuda, sem um apoio, em solidão e recriminação.
Votarei sim porque não aceitarei que, ultrapassada que seja esta questão tão elementar para a nossa dignidade de cidadãos, e também aqui somos remetidos para a cauda dos países civilizados, se continue a manter uma atitude medíocre e atrasada no que concerne a educação sexual e reprodutiva dos nossos jovens. As nossas jovens continuam a registar das taxas de gravidez adolescente mais altas da Europa.
Votarei sim porque não aceitarei outra solução que não seja a de acolher todas as grávidas, a quem o problema se põe, sob a égide do nosso Serviço Nacional de Saúde, numa atitude de co-responsabilidade nacional pelas questões da saúde reprodutiva.
Votarei sim porque não aceito que trinta anos depois de Abril ainda haja mulheres portuguesas remetidas para a solidão e o sofrimento, enchendo os bolsos daqueles que medram na clandestinidade.
Votarei sim porque não aceito que no desespero e na solidão uma jovem futura mãe tenha que tomar decisões de vida ou de morte sem o apoio de quem lhe possa apontar alternativas. Alternativas que são dever de um Estado nascido da esperança dos cravos e do sonho.
Votarei sim porque não quero o país cinzento e triste em que recorrentemente nos achamos, feito de lágrimas e sal e da nostalgia do que nunca foi.
Votarei sim porque não aceitarei que continuem lentos os processos de adopção, que mais não sejam que intenções as políticas activas de apoio às famílias e que não seja afirmada a garantia de que as crianças não são propriedade dos pais, mas sim o futuro deste nosso jardim à beira-mar plantado.
:: enviado por RC :: 2/04/2007 11:07:00 da manhã :: início ::
3 comentário(s):
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Pelas suas razões eu também voto SIM. E aproveito para denunciar a campanha rasteira, nomeadamente dos da plataforma do “não” que nem sequer assume a autoria do panfleto “Carta à minha Mãe” que andou a ser distribuído nos infantários do Centro Paroquial da Anunciada em Setúbal (pelo menos!) e que pode consultar nestes links:De , em fevereiro 04, 2007 12:06 da tarde
http://bp3.blogger.com/_u2LTKQsPCrI/RcHdsBpknFI/AAAAAAAAAmQ/yOVKin_5a_U/s1600-h/folheto1.jpg
http://bp0.blogger.com/_u2LTKQsPCrI/RcHdsRpknGI/AAAAAAAAAmY/hc9eQkEA4UA/s1600-h/doc2frente.jpg
É que este atentado à inteligência é da responsabilidade da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, da Associação Católica dos Enfermeiros e Profissionais de Saúde, dos Centros de Preparação para o Património – CPM Portugal e das Equipas de Nossa Senhora, conforme está no segundo link.
E entretanto, consultando-se o site do patriarcado, vê-se que é o próprio Cardeal Patriarca que coordena as Associações dos Médicos e dos Enfermeiros e que é o D. Tomaz da Silva Nunes que tem a responsabilidade dos Centros de Preparação para o Matrimónio e das Equipas de Nª Senhora.
Lembro que pertence à Associação dos Médicos o tal dr. João Paulo Malva e aos Cursos de Nª Srª o Fernando Santos, duas das estrelas mediáticas da Plataforma do Não, e aí, companheiros entre muitos outros do Alexandre Relvas, António Bagão Félix; António Gentil Martins; António Lobo Xavier; Luis Nobre Guedes; Maria José Nogueira Pinto;
Nuno Morais Sarmento; Nuno Rogeiro; Teresa Venda; e da Zita Seabra! -
Eu voto não porque a vida humana é sagrada.De Obseervador, em fevereiro 05, 2007 4:21 da manhã
Sempre ouve quem relativizasse o valor da vida humana.
Para quem faz guerras a pátria está acima de tudo e o valor da vida humana é relativo.
Para quem defendia a escravatura, os africanos não eram humanos.
Para mim qualquer ser com o código genético de um ser humano , independentemente de ser negro, bébé ,idoso ou embrião , é um ser merecedor de respeito e cujo direito à vida deve ser defendido.
Assim sendo só posso votar não. -
Um embrião é um embrião e um ser humano é um ser humano. Mas não é nada disto que vai a votos no referendo à despenalização mas tão somente se achamos que a interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas deve ser despenalizada. Isto é se queremos continuar a julgar e a punir as nossas mulheres que precisarem de abortar. Isto é se achamos que se deve mudar o Código Penal no artigo que pune as mulheres que precisarem de abortar. O que vai a votos é uma alteração do código penal, isto é, uma questão política. E se o SIM vencer nenhuma mulher será obrigada a fazer seja o que for contra a sua consciência mas em contrapartida as que em consciência precisarem de fazer um aborto podem fazê-lo em condições de segurança e sem riscos para a saúde, com dignidade e sem receio de serem condenadas e presas. É uma questão de decência humana votarmos SIM no dia 11.De , em fevereiro 05, 2007 6:36 da tarde