terça-feira, março 27, 2007
Ditador ou salvador?
Não é por nada, mas eu cá sempre disse que o gajo está mal enterrado!...Como a democracia não soube (ou, pior!, não quis) arrumar no lugar devido o nosso passado recente, corre-se o risco de que os zombies oriundos desse passado arrumem a democracia.
Aconteceu, na RTP, no domingo passado, a ”morte simbólica do 25 de Abril”, como disse Eduardo Lourenço ao Público? Com todo o respeito que E. L. me merece, não me parece que um “concurso” mentecapto como aquele possa aspirar a tanto. Levou, isso sim, à mobilização de simpatizantes da extrema-direita (que os há!) e de idiotas-úteis para votarem em Salazar e de simpatizantes do PCP para votarem em Cunhal. Pelos vistos, aqueles mobilizaram-se mais do que estes. Sinais dos tempos...
Mas, perguntaremos, porque é que há gente disposta a afirmar que Salazar foi um grande português? Por várias razões, como se compreenderá:
— porque Salazar não se apoiava no vazio, com toda a certeza;
— porque as actuais gerações com idade inferior a 35 anos não viveram naquela época e nenhum dos governantes da democracia que veio depois se preocupou em lhes explicar como foi, tanto mais que, não sei se por terem (pelo menos, alguns deles) o rabo preso, a grande preocupação deles foi não deixar “cair o poder na rua” e, tão rapida e subrepticiamente como lhes foi possível, libertar e pôr a salvo os mentores, os executores e os carrascos do regime que os precedeu;
— porque o actual regime, embora não meta na cadeia e torture quem se lhe opõe ou simplesmente o critica, também deixa muito a desejar.
Com base neste último argumento, há por aí umas cabecinhas pensadoras que dizem que, afinal, os telefonemas/votos em Salazar foram apenas uma forma de protesto, uma reacção até saudável à actual bandalheira... Mas não, não têm razão: porque, actualmente, as pessoas têm à sua disposição toda uma variedade de meios e formas de protestar, têm a possibilidade de se organizar para reagir ao que consideram errado ou afrontoso da sua dignidade, e, finalmente mas não menos importante, têm, no mínimo, a possibilidade de, sozinhos e livres nas câmaras de voto, periodicamente, não pôr a cruzinha nos bandalhos que, se levarmos a sério os desabafos das pessoas no café, os têm estado a roubar e/ou a ofender e pôr a cruzinha noutros (porque há outros!... pode até ser que sejam iguais ou parecidos, mas disso só teremos a prova provada quando os escolhermos).
:: enviado por Manolo :: 3/27/2007 09:42:00 da tarde :: início ::
2 comentário(s):
-
Maneira habilidosa mas incorrecta que A.F. encontra para justificar a vitória de Salazar naquela palhaçada a que chamaram concurso do mais não sei quê, pois sabe muito bem que Salazar não venceu por aquilo que diz.De , em março 27, 2007 11:12 da tarde
Por que será que em Espanha, por exemplo, Franco está esquecido e em Portugal Salazar não? A resposta a esta questão é muito fácil: porque em Espanha os governantes que sucederam a Franco foram melhores do que ele proporcionando melhorias substanciais para o povo espanhol, ao contrário de Portugal que trinta anos de “democracia” o que trouxeram? Dois milhões de pobres, corrupção, compadrio, tráfico de influências, privilégios escandalosos (veja-se só o caso dos gestores que se demitem ou são demitidos de uma empresa pública, recebem escandalosas indemnizações e seguidamente são admitidos logo noutra, e assim sucessivamente), etc. etc.
AF. compreende isto muito bem mas, tudo leva a crer que finja aquilo que argumenta, numa tentativa de ainda fazer crer, os distraídos, que o poder actual é melhor que o antigo. Não insista porque já ninguém acredita nisso que diz. -
Franco está esquecido? Não deve ter-se apercebido da tourada quando apearam uma estátua em Madrid...ou é dos negacionistas do neo-salazarismo?De , em março 28, 2007 12:05 da manhã