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sexta-feira, abril 20, 2007

Amok

A quase totalidade das opiniões acerca da tragédia de Virginia Tech oscila, por um lado, entre a crítica da liberalização da posse de armas nos EUA, que favorece o respectivo uso discricionário, e, por outro lado, a lógica daqueles que pensam que, se todos os estudantes da universidade andassem armados, a tragédia teria tido um alcance muito menor. No primeiro grupo encontramos, sem surpresa, Michael Moore que explica o sucedido numa simples frase: America is a violent country. Também não surpreende que a lógica da relação entre a posse de armas e os frequentes usos assassinos das mesmas seja a que mais transborda nos comentários a uma matança desta amplitude.
Contudo, a discussão não se esgota na problemática da regulação do uso e posse de armas. Acima de tudo, tratou-se da reacção assassina de um sujeito que, tomado por uma fúria insuportável, decidiu matar, num curto lapso de tempo, todos aqueles que tivesse à mão de semear. Os psiquiatras chamam a isso violência catatímica. Mais exoticamente, os malaios chamam-lhe “amok”, que significa qualquer coisa como “enlouquecer com descontrolada fúria”. O termo Amok foi popularizado no título de uma das novelas de Stefan Sweig.
De facto, não se pode dizer que o infeliz Cho Seung-Hui tenha tido uma ideia muito original: este tipo de arrebates emocionais tem vindo a aumentar nas últimas décadas em todas as sociedades. Há muito que a imprensa faz eco de mortes massivas com maior quantidade de cadáveres: os que diariamente morrem no Iraque, também eles vítimas de atentados suicidas, os genocídios no Ruanda e mais recentemente no Darfur. Mas, é claro, a barbaridade de Virginia Tech aconteceu mais perto de casa. Já Estaline — grande conhecedor — dizia que uma só morte é uma tragédia, um milhão é uma estatística. Em todo o caso, o suicida assassino da Virgínia conseguiu ultrapassar todos os recordes do género nos States, muito embora devesse saber que o Guiness Book não regista estas depravações.
Note-se que escrevi suicida assassino em lugar de assassino suicida. Este último é o que tem por objectivo prioritário matar os demais, como os homens bomba do Iraque ou da Palestina ou os fanáticos que estatelaram os aviões contra o WTC. Ao invés, a prioridade do suicida assassino é acabar com a sua própria vida. Ou porque acha que a mesma não tem sentido, ou porque odeia este mundo em que nasceu. O que acontece é que é tão estupidamente gregário que não quer ir sozinho para o outro mundo e então leva consigo outra gente que talvez encontre sentido à vida e que... não tem nada a ver com os seus problemas.
A propósito, pareceu-me — por ter vivido os acontecimentos por perto na semana passada — que também os rapazes-bomba de Casablanca são mais tipicamente suicidas-assassinos do que os assassinos-suicidas do Iraque ou até mesmo os de Argel.
Mas isso ficará para desenvolver noutra ocasião.

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:: enviado por JAM :: 4/20/2007 12:55:00 da tarde :: início ::
1 comentário(s):
  • OFF TOPIC: o site meter começou a carregar spyware desde há 3 semanas.
    Ou seja fazer rastreamento dos users que aqui passam e do próprio blog.

    De Blogger ""#$, em abril 20, 2007 8:25 da tarde  
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