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quarta-feira, abril 18, 2007

Vivemos num mundo de aparências

Ainda com os motores mal aquecidos neste regresso de férias, leio que Joshua Bell, considerado um dos melhores violinistas do mundo, aceitou participar numa experiência promovida pelo Washington Post e destinada a demonstrar se as pessoas estão ou não preparadas para apreciar a virtuosidade num lugar e momento menos apropriados.
Tratava-se de tocar incógnito nos corredores do metro de Washington, para ver qual seria a reacção dos transeuntes que percorriam a estação de Enfant Plaza. Com um Stradivarius de 3.500.000$, um boné de basebol e umas calças de ganga, Bell tocou durante 43 minutos para as 1097 pessoas que passaram pela sua frente. Os que se detiveram para o ouvir contaram-se pelos dedos de uma só mão e o rendimento dos donativos não ultrapassou os 32 dólares e... alguns cêntimos.

A estação de Enfant Plaza serve maioritariamente passageiros que se dirigem aos escritórios governamentais circundantes. Muitos deles são empregados de nível médio-alto que estariam dispostos a pagar preços elevadíssimos para assistirem a um dos famosos concertos de Joshua Bell. Gente que só consome (mesmo que seja cultura) se o produto for convenientemente publicitado e contar com o alarde e o estrondo necessários.
É raro um autor ou uma obra conseguirem impor-se por si mesmos, não só perante o público, mas também perante os que estão encarregados de os difundir. A autora Doris Lessing demonstrou-o muito bem quando um dia enviou uma das suas novelas ao seu editor habitual, assinada sob pseudónimo. O editor respondeu que a novela era muito boa mas que era comercialmente inviável.
Ao invés, basta que um cantor de rock tenha que varrer ruas ou que uma top-model tenha que esfregar chão, no cumprimento das respectivas sentenças judiciais, para que se congreguem televisões de meio mundo e afluam multidões de curiosos.

:: enviado por JAM :: 4/18/2007 12:06:00 da manhã :: início ::
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