terça-feira, abril 03, 2007
Morceaux choisis
do Arrastãodo Jumento
"Com a introdução do novo modelo o processo de avaliação dos funcionários passa a ser dualista, de baixo para cima assenta em valores liberais enquanto de cima para baixo adopta o que já existe, ou seja, pratica os priores valores do que os do antigo Estado Soviético. Até ao nível hierárquico de chefe de divisão funciona como modelo liberal, cabendo a estas chefias um papel que consiste numa simbiose entre o capataz e o negreiro, de director de serviços em diante o modelo transporta-nos para os corredores do Kremlin."
de Inês Pedrosa
Pagar para respirar
Em Portugal já há quem pague, e muito, para respirar – todos os portugueses que dependem de garrafas de oxigénio para viver pagam o valor máximo do IVA (21%) por esse luxo – a mesmíssima taxa que impende sobre os produtos de perfumaria ou as garrafas de uísque. Muito mais do que se paga por uma garrafa de vinho português (IVA de 12%). Destas coisas não se fala porque, na pós-modernidade sem tabus, o sexo vende-se como festa contínua e a juventude como obrigação eterna, mas a doença é tratada como, mais do que uma vergonha, uma prova de inferioridade. A morte de cancro noticia-se, eufemisticamente, como «doença prolongada» - e com o advento da sida e da Alzheimer a boataria e a má-língua sobre as enfermidades dos famosos tem atingido níveis absolutamente infra-humanos. O tom compungido e íntimo que certos «amigos» põem no relato pormenorizado das supostas misérias físicas dos seus próximos faz perder o ar ao mais contido. Há dias, ouvi a uma dessas almas: «Vais encomendar-lhe o trabalho, a sério? Pois, fulano é excelente, mas tem andado muito debilitado, não sei se dará conta do recado... Dizem que é uma pneumonia, mas, enfim, sabe-se lá se não será outra coisa...» Cada vez mais frequentes são também os comentariozinhos marginais sobre os vícios: «Sim, sim, é óptima - tem é aquela tendenciazinha para os copos, e para os cigarritos... Não dura muito, coitada.» Sobre os que respiram através de garrafas de oxigénio impende, por conseguinte, a suspeita de que não viveram segundo os Mandamentos da Santa Madre Saúde - provavelmente praticaram o pecado do fumo e, se assim foi, agora deixá-los pagar. [...]
de ANOVIS ANOPHELIS
Em seguida temos uma Ministra da Educação que para além de ter um currículo que desdiz qualquer especial competência (mesmo uma qualquer competência “não-chave”) para o cargo, demonstra uma anormal incapacidade para elaborar um discurso sobre as matérias de que aparentemente é responsável ao nível da decisão política, sem ser em ambiente controlado. Sempre que sujeita a um contraditório moderado - nunca a vi ser verdadeiramente “entalada” - vai-se completamente abaixo, começa a titubear, enerva-se, refugia-se em chavões contraditórios (ora se queixa de caricaturas e generalizações abusivas, ora de exemplos demasiado concretos), acabando por desaparecer dos confrontos negociais mais delicados na sua área de governação. Depois de tanto criticar os docentes, alegando que são eles os responsáveis pelos males da Educação em Portugal, afirmando uma enxurrada de platitudes sobre a necessidade de mérito dos docentes, conhecemos agora, em registo indesmentível, a forma como reage perante os próprios alunos que a contestam. E consta que não foi caso único, em especial em ocasiões onde as câmaras televisivas estavam ausentes. Valha-nos, pois, a idade da tecnologia digital. Num país normal, esta atitude, tal como a que teve em relação às decisões dos tribunais açorianos, valer-lhe-ia um bilhete de ida para lado nenhum. Cá, continua a passar por ser uma pessoa de bom senso. ?????? A atitude visível no vídeo agora divulgado é de alguém com bom-senso? E isto também o será? Quantos milionésimos do Orçamento vale este tipo de decisões?
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