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quinta-feira, maio 03, 2007

Era uma vez um debate presidencial

Nas sete eleições presidenciais celebradas em França desde que o presidente é eleito por sufrágio universal, só houve quatro debates televisivos. Nas primeiras (1965) a História perdeu aquele que teria sido sem dúvida um combate singular entre o velho general De Gaulle e o ainda jovem Miterrand. Nessa altura, a V República estava em fase de construção e a democracia mediática não fazia ainda parte do mercado político. Quase 40 anos depois (2002), já em plena era da comunicação, Chirac recusou-se a enfrentar Le Pen, frente às câmaras, por medo que, “face à eloquência do candidato da extrema direita, a sua desvantagem oral se transformasse em desvantagem política”. Na altura, foi mais ou menos essa a análise de Michelle Cotta, ex-directora de informação da TF1, que viveu a rude desforra de Mitterrand sobre Giscard, em 1981, e a disputa quase física de 1988 entre o presidente socialista e o seu, até então, primeiro ministro, Chirac.

Antes do debate de ontem, o último tinha acontecido em 1995, entre o noviço Jospin e o já garantido vencedor Chirac. Compreende-se pois que, após uma abstinência de doze anos, os franceses se tivessem precipitado ontem sobre os televisores para assistirem ao combate mais singular da V República: um homem e uma mulher, um bonapartista e uma girondina, um advogado brilhante e uma enarca de carisma atípico, a eloquência devastadora do presidente da UMP e a elocução lenta de Royal. Só as regras do jogo não mudaram desde os primeiros debates de há 30 anos: nada de planos sobre aquele que escuta; a escolha dos jornalistas moderadores; a posição das câmaras e dos microfones; o tamanho da mesa; a distância entre os candidatos...
Em França, como se sabe, quase tudo subsiste desde a tomada da Bastilha e a sagração de Napoleão. Desta vez porém, o factor mulher pulverizou todas as referências e apareceu como uma variável iconoclasta do choque pela presidência de uma república que é simbolizada por uma mulher (Marianne) mas que foi desde sempre dirigida por grandes homens. Mesmo quando eram de pequena estatura como foi Bonaparte, a que agora aspira ser o também pequeno Sarkozy.

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:: enviado por JAM :: 5/03/2007 11:59:00 da tarde :: início ::
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