BRITEIROS: Seis dias e quarenta anos depois <$BlogRSDUrl$>








segunda-feira, junho 11, 2007

Seis dias e quarenta anos depois

Não foram precisos seis dias para que o exército de Israel derrotasse as tropas árabes nos campos de batalha do Sinai, da Cisjordânia e dos montes Golan. Bastaram poucas horas do amanhecer de 5 de Junho para que os caças-bombardeiros do Tsahal, voando abaixo do raio de acção dos radares, destruíssem 309 aviões da esquadra egípcia, dos seus 340 aparelhos, e depois atacassem os aviões jordanos, sírios e iraquianos que ainda nem sequer tinham descolado das respectivas bases, conseguindo ao segundo dia a completa destruição de 393 aviões árabes.
A “guerra”, recém começada, foi uma derrota humilhante que, durante dias, o presidente Nasser e a propaganda do Cairo tentaram ocultar. Se a guerra de 1948 constituiu o grande desastre dos palestinianos, o Nakba, esta nova guerra dos “seis dias” provocou um profundo sentimento de derrota, traumatizante para os habitantes do Egipto, da Síria, da Jordânia, a derrota dos povos árabes, que se fundiram numa depressão colectiva e numa meditação angustiada sobre as causas do grande fracasso militar.
No quarto dia da guerra, os soldados israelitas esmagaram centenas, milhares, de tanques na península do Sinai, em cujas dunas o pobre exército egípcio fugia à debandada, abandonando até as botas. A conquista das colinas do Golan foi mais encarniçada devido à resistência dos sírios entrincheirados e às baixas israelitas consideráveis. A queda da velha cidade fortificada de Jerusalém converteu-se numa grande vitória religiosa e histórica do povo judeu.
Seis dias e quarenta anos depois dessas batalhas perdidas, mais pela negligência, pela falta de coordenação e pela pouca capacidade de manobra dos altos comandos árabes — o marechal Amer, companheiro fiel de Nasser, suicidou-se após a derrota — do que pela eficiência ou a agilidade dos chefes militares israelitas, as consequências continuam muito vivas. O Egipto recuperou a península do Sinai, a Síria não conseguiu a devolução dos Golan e a Jordânia teve que renunciar às suas jóias da coroa, Jerusalém e toda a Cisjordânia, na qual a maltratada “Autoridade” Nacional Palestiniana tem tentado estabelecer uma diminuta e trociscada entidade estatal.
A paz de Israel com o Egipto e com a Jordânia é uma paz fria. A famosa resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, adoptada em 22 de Novembro de 1967, fundada no intercâmbio dos territórios ocupados, continua por aplicar. Os palestinianos continuam a combater e a exigir agonicamente as suas terras. O conflito palestiniano é, como tantas vezes se repete, o coração dos pavorosos problemas que se vão agravando e acumulando sobre os povos do Médio Oriente.
A grande maioria dos dirigentes árabes já se esqueceu de uma outra resolução que fez elaborar pouco depois daquela guerra, na cimeira de Cartum, que se vangloriava dos seus três “Nãos”: não às negociações, não ao reconhecimento, não à paz com Israel. Voltaram, depois das derrotas humilhantes, depois de meio século transcorrido, à aspiração de dividir a Palestina em dois Estados, um judeu e outro árabe. Mas mesmo este não deixa de ser um sonho difícil de realizar.
Sobre o cemitério das utopias e dos ideais mortos — como o panarabismo, o “novo homem árabe”, a “revolução palestiniana”, os projectos de modernização popular inspirados em modelos progressistas, laicos e europeus — brotaram poderosos e inquietantes movimentos surgidos da interpretação de um Islão totalitário e beligerante, atiçados por ideologias e comportamentos políticos extremistas de governantes dos Estados Unidos e doutras nações do Ocidente.
O final da guerra-fria entre os Estados Unidos e a União Soviética não apagou o fogo do Médio Oriente. O Estado de Israel continua a consolidar-se à custa da guerra, da destruição, da violência, da frustração, do empobrecimento ameaçador dos povos vizinhos, quer eles sejam palestinianos, libaneses ou iraquianos. Seis dias e quarenta anos depois de ter sido configurado o actual mapa regional, os países do Médio Oriente foram arrojados para uma vida quotidiana arrepiante. Seis dias e quarenta anos depois, já ninguém acredita que o mundo é inocente.

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:: enviado por JAM :: 6/11/2007 12:01:00 da manhã :: início ::
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