sexta-feira, novembro 23, 2007
O injustiçado
Não há nada como o futebol para alimentar uma boa polémica. Tinha prometido a mim mesmo que não falaria mais de futebol neste blog porque implica sempre alguns insultos e o olhar reprovador da família e dos amigos. Temo, no entanto, que a minha fraqueza seja superior à minha vontade.
O meu amigo JAM (certamente influenciado por ser adepto do Sporting e portanto estar habituado a perder jogos que deveria ganhar facilmente) acha que Scolari tem razão e que não tem nada que responder a perguntas de jornalistas que não sejam de louvor. Eu acho que não.
Obviamente, os adeptos têm sempre expectativas muito altas em relação às suas equipas o que faz com que eu, por exemplo, apesar das miseráveis exibições do Benfica e da evidente falta de qualidade da equipa, continue com a expectativa irracional de que possam ser campeões da Europa. No caso da selecção nacional é diferente. Primeiro, porque os jogadores são de qualidade, jogam em boas equipas e são pagos ao nível dos melhores do mundo, depois porque o seleccionador não se cansa de repetir que já foi campeão do mundo, que é um dos melhores na sua profissão e que os objectivos são os quartos de final dos campeonatos do Mundo ou da Europa. Sendo assim, é normal que as nossas expectativas sejam elevadas e que, para quem tem como objectivo chegar aos quartos de final, seja normal que se qualifique primeiro para a fase final da competição. Logo, o simples facto de se qualificarem já não é suficiente para nos contentar. Há que o fazer, claro, mas jogando futebol ao nível do que apregoam ser capazes. Foi a pergunta de porque é que não o fazem (que muitos portugueses também teriam feito) que irritou Scolari não se percebe muito bem porquê.
Aliás, haveria outras perguntas em que seria interessante ouvir a opinião do treinador: que me lembre, Portugal nunca teve um grupo de qualificação tão fácil. Se não, vejamos: Portugal é 8° no ranking da FIFA, a Polónia é 23°, a Sérvia é 30° e a Finlândia 36° - dos outros nem falo porque são daquelas equipas para quem o futebol é fácil quando não têm a bola nos pés. Como é que com um grupo destes conseguiram não ganhar a nenhuma destas três equipas e acabar o último jogo de qualificação a sofrer contra uma equipa ao nível da Guiné ou da Costa do Marfim e a empatar o jogo sem golos? Conheço o discurso de que já não há equipas fáceis e todos são agora do mesmo nível. Se é assim, porque é que o Cristiano Ronaldo ganha mais num ano do que toda a equipa da Arménia junta? Não será que aos bons profissionais se paga melhor porque são precisamente melhores? E não terão que o demonstrar quando para isso são chamados? Ou será que entendem que basta jogar 15 minutos - como fizeram contra a Sérvia – e depois é só deixar passar o tempo? Ou que jogar na Arménia com frio, num terreno menos bom e contra uma equipa que correu como se o fisco português os perseguisse deveria ser proibido pela UEFA?
A não ser que se considere um feito futebolístico ganhar 4-0 em casa contra a Bélgica, há que ter muito boa vontade para encontrar um bom jogo de Portugal nesta fase de qualificação. É certo que esta equipa portuguesa está em remodelação e que há jogadores importantes indisponíveis. Scolari até poderia referir isso como justificação para exibições menos conseguidas. Não o fez. Preferiu a cena do injustiçado depois de nos ter feito a cena do macho latino a defender a “honra” ao murro.
Pouco me importa se Scolari está indignado ou não. Pagamos-lhe (e bem) para fazer o seu trabalho e para cumprir objectivos. Não lhe pagamos para ser mal-educado.
:: enviado por U18 Team :: 11/23/2007 02:58:00 da tarde :: início ::