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segunda-feira, novembro 12, 2007

Toma que é democrático!

O acontecimento mais marcante deste fim-de-semana foi sem dúvida a insólita saída de trono do Rei Juan Carlos para mandar calar Chávez. Ao fazê-lo, deu o verdadeiro tom a uma reunião em que, pela primeira vez, neste tipo de círculo de altos voos, os empresários espanhóis foram alvo de duras críticas por parte dos dirigentes da Argentina, Venezuela e Nicarágua.
O remate final foi a forma como Chávez qualificou José María Aznar como “fascista”, acusando-o — a ele e aos empresários espanhóis — de terem apoiado o fracassado golpe de Estado perpetrado em 2002 contra o governo de Caracas.
É certo que o presidente venezuelano interrompeu Zapatero quando este defendia a honra de Aznar, argumentando que “não é aceitável” que no foro democrático se usem desqualificações a pessoas que governaram como fruto da vontade popular. Mas, daí a que o rei espanhol, também no foro democrático, mande calar alguém, há no mínimo um pequeno abismo conceptual.
É concebível que o monarca espanhol tenha ultimamente os nervos à flor da pele, sobretudo desde que os seus súbditos se puseram a queimar-lhe os retratos e a fazer escárnio da família real, levando os juízes a cerrar fileiras em defesa da imaculada coroa, dando a entender que a realeza é uma divindade encarnada com a qual ninguém se deve meter.
Mas que Chávez tache Aznar como fascista, não deve surpreender ninguém minimamente informado sobre a verborreia habitual do líder da direita espanhola. É certo que muitos espanhóis acreditaram e votaram nele, mas isso não significa que — como asseverou Zapatero — as tachas de Chávez sejam uma ofensa ao povo espanhol. Pior do que isso foi o desprezo que Aznar manifestou pelos seus próprios concidadãos quando estes disseram “não” nas ruas à intervenção do trio dos Açores no Iraque, agressão ilegal, contrária ao direito, antidemocrática e — porque não dizê-lo — fascista. E isso não significa minimamente que os respectivos povos sejam fascistas.
Aznar, cabeça visível da democracia intolerante e agora defendido pelo socialista Zapatero; Aznar, que perdeu as eleições de 2004 por ser mentiroso, continua a pôr em xeque o estado de direito espanhol com a sua obsessão de que os atentados do 11 de Março em Madrid foram obra da ETA. Os juízes já disseram que não, que os etarras nada tiveram a ver com isso.

Juan Carlos não tem nada que mandar calar seja quem for. A não ser que pretenda demonstrar que nestas cimeiras se faz o que ele ordena. Talvez esteja cansado e nervoso porque no seu país cresce imparável um estado de opinião que põe tudo em questão, inclusive a vigência da monarquia. Talvez por isso não se atreva a dizer tudo o que pensa em Espanha e tenha que vir aos seus antigos territórios botar um discurso tão arcaico como a própria monarquia.
O mundo muda e é tempo dos governantes espanhóis falarem de igual para igual mesmo com aqueles que se expressam em termos “politicamente incorrectos”. Sobretudo tendo em conta que os empresários espanhóis, silenciosamente apoiados pelo seu governo, encorajam intentonas como a da Venezuela. Sobretudo por causa de certos tratamentos humilhantes de que são alvo muitos emigrantes latino-americanos em Espanha. Daí também o protesto do presidente do Equador em relação à brutal agressão xenófoba sofrida por uma sua concidadã no metro de Barcelona. É claro que o seu homólogo Álvaro Uribe nada disse sobre a brutal agressão que, dias depois, foi propiciada por quatro espanhóis a um emigrante colombiano, quando este saía de uma discoteca de Madrid.
O mundo muda e também a democracia terá que ser para todos e em toda a sua expressão.

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:: enviado por JAM :: 11/12/2007 12:27:00 da tarde :: início ::
3 comentário(s):
  • Quem elegeu o Rei?
    JCM

    De Anonymous Anónimo, em novembro 13, 2007 3:36 da manhã  
  • Com o devido respeito, transcrito do "Cravo de Abril"


    «POR QUÉ NO TE CALLAS?»

    «PORQUE SOMOS LIBRES!»




    Na sexta-feira, intervindo na XVII Cimeira Ibero-Americana,o Presidente Hugo Chavez chamou «fascista» a Aznar. Chavez lembrava a implicação e o apoio que o então primeiro-ministro espanhol deu à tentativa de golpe na Venezuela, em Abril de 2002 e os esforços que fez para que a União Europeia apoiasse o dito golpe - e, não sei, mas é bem provável que tenha denunciado os ataques constantes de Aznar à Venezuela, os insultos ao presidente venezuelano; e, provavelmente, as responsabilidades do lacaio de Bush no assassinato de centenas de milhares de pessoas no Iraque.

    Ontem, quando Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, intervinha denunciando práticas de empresas espanholas no seu País, Hugo Chavez atirou um aparte visando Aznar.

    SM, o Rei de Espanha - recuando no tempo, julgando-se ainda o colonizador todo-poderoso, arrogante e autoritário - «chegou-se à frente na cadeira para que todos o vissem» e soltou o seu grito de raiva: «Por qué no te callas?».

    Zapatero, incomodado, pediu a palavra. Michelle Bachelet, presidente chilena, que dirigia a sessão - certamente intimidade com o real grito de raiva - retirou a palavra a Ortega e, indiferente aos protestos do presidente da Nicarágua, deu-a a Zapatero.

    Este, numa atitude de, digamos assim, automática solidariedade de classe, fez a defesa da honra ofendida de Aznar, baseado essencialmente no facto de este ter sido «eleito democraticamente pelos espanhóis».
    Presume-se que, para Zapatero, o facto de um indivíduo ter sido «eleito democraticamente» lhe confere legitimidade para apoiar golpes noutros países - e, até, para cumprir, sempre democraticamente, o seu papel de criminoso de guerra.

    A senhora Bachelet, generosa e democrática, concedeu mais «três minutos» a Daniel Ortega.
    Este, começando por dizer que falaria o tempo que lhe apetecesse, ofereceu a palavra a Chavez - que, citando o «pai da pátria» do Uruguai, José Gervásio Artigas, disse apenas: «Com a verdade, não ofendo nem temo» - com isto dizendo tudo.

    Ortega falou, depois, durante vinte minutos, apoiando as posições e as declarações de Hugo Chavez sobre Aznar.
    E, sempre olhando de frente para Zapatero e para o Rei, sublinhou que «Aznar fez e continua a fazer campanha contra a Venezuela», acrescentando: «Se nós temos que vos respeitar, vocês têm que se dar ao respeito».

    Foi então que Sua Majestade, possuído por aquela irritação raivosa dos que - porque lhes corre no sangue (neste caso azul, é claro) o hábito ancestral do autoritarismo, da arrogância e da prepotência e não admitem ser minimamente contrariados - abandonou a sala.

    Às cinco arrogantes palavras do Rei de Espanha, respondeu a Venezolana de Television com três palavras:

    «Por qué no te callas?»

    «Porque somos libres!»

    Mais palavras para quê?

    De Blogger ja, em novembro 13, 2007 6:35 da tarde  
  • Um óptimo post!

    Para "esclarecer" o anónimo das 3:36 posso dizer que o rei foi "eleito" por Franco.

    Podem ver mais informações sobre o que se vai passando na Venezuela em Tirem as mãos da Venezuela

    De Blogger Alexandre Leite, em novembro 13, 2007 8:58 da tarde  
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