quinta-feira, maio 15, 2008
Aos Professores
Um país onde os professores são tratados da forma como se tem visto ao longo destes anos de democracia à portuguesa sofre seguramente de doença grave de diagnóstico difícil de obter através dos meios habituais.
Todos tivemos profressores que considerámos maus por motivos que hoje nem sempre conseguimos explicar. Mas todos tivemos certamente bons professores, que permanecerão para sempre na nossa memória não apenas pela forma como nos ensinaram as matérias constantes dos programas das disciplinas, mas pela força com que nos ajudaram a descobrir os novos caminhos por onde fomos encontrando os sonhos imensos da vida que pudemos mais tarde construir.
E no entanto, se pararmos um pouco para melhor reflectir, chegaremos à conclusão que muito do bom e do menos bom que nos marcou nos anos que passámos pelas diversas escolas ficou a dever-se, não apenas às qualidades e defeitos dos sucessivos professores, mas também aos colegas e amigos com quem melhor ou pior conseguimos conviver e partilhar alegrias e tristezas, aos funcionários mais ou menos capazes de nos acarinhar ou castigar acima do previsto nas normas internas, dos responsáveis pela gestão das escolas tantas vezes "mais papistas que o papa", dos programas mais ou menos desadequados em relação ao essencial da realidade da vida que conhecíamos fora dessas escolas. Para não falar das contradições entre os valores de se pretende que as escolas sejam os baluartes e a sociedade que a política oficial nos oferece sob o pretexto dos votos maioritariamnete expressos de acordo com as regras democráticas.
Estamos mais uma vez numa daquelas fases a que os grandes ideólogos destas coisas do ensino chamam de reforma essencial e urgente.
E eu fico-me a pensar, na minha qualidade de leigo no assunto, quando surgirá a coragem de recriar a motivação que nos faça desenvolver a verdadeira alegria de aprender.
Enretanto, não quero deixar de registar aqui o meu singelo gesto de homenagem aos professores que tiveram a coragem de vir dizer, de cara descoberta, ao longo de muitas ruas deste Portugal, que ainda existe capacidade para resistir contra qualquer tentativa de imposição de silêncio.
Porque a liberdade também se aprende nas escolas.
E a liberdade não se pode deixar amordaçar por mais ou menos hipócritas festas de comemoração de qualquer 25 de Abril.
(professores em Aveiro)
:: enviado por vieira da silva :: 5/15/2008 11:42:00 da tarde :: início ::
3 comentário(s):
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Tomei a liberdade de sacar este video-clip.De AC, em maio 17, 2008 4:32 da manhã
Obg -
Tadinhos!De MFerrer, em maio 20, 2008 3:52 da tarde
Eles agora até descobriram que têm direitos que estão acima dos resultados obtidos.
Claro, foram destratados! Queriam continuar a ter promoções automáticas, reformas de 2500 Euros aos 49 anos (profissão de desgaste rápido!)e dar umas aulinhas, poucas, que os pais dos alunos pagariam explicações, caso estivessem interessados nisso, e tivessem o arame necessário. Depois, era só matriculá-los no colégio privado para tirarem as notas necessárias à entrada na Universidade. Claro que entretanto nada fizeram, esses professores ofendidos, pela dignificação da profissão: Não! Eles alinharam pelo menor denominador comum e andavam felizes e contentes com 20% de chumbos e abandonos só até ao
4º ano de escolaridade! Depois, seguiam-se mais 25 a 30% de abandonos até ao 9º ano. Nas escolas de Lisboa a relação entre alunos e profs é de 4,4 para 1.
O número de professores com horário zero e com reduções avulsas de componente lectiva era de vários milhares...
Para não falar dos afectados aos sindicatos a tempo inteiro.
Compreendo perfeitamente a fúria deles. Acabou-se o regabofe!
Maria de Lurdes Rodrigues por mais 4 anos pelo menos!
MFerrer -
Parabéns MFerrer!!!De vieira da silva, em maio 22, 2008 11:02 da tarde
Ao tempo que não lia argumentos com tanta lógica e tanta inteligência.
É uma pena não termos mais gente assim, firme na luta pela verdade dos factos.
O que não se pouparia em ordenados de professoress, de auxiliares de educação, de psicólogos, de funcionários administrativos, de policias, de médicos, de juízes, enfim de toda essa gente medíocre e mediana que vagueia por este país a falar de democracia e liberdade.
Bastava meia dúzia de gente como MFerrer e tínhamos o Estado Divino de que urgentemente necessitamos.
E, já agora, porque não propopõe que se acabe de vez com os sindicatos, os actos eleitorais,os deputados, os partidos...etc... Talvez no recanto do seu alto pensamento se se entretenha afinal,em ser feliz, e se atreva, numa qualquer segunda feira de páscoa, a elevar-se a Sumo Pontífice de Portugal.
Acha que vale a pena esperar por si?
Com os cumprimentos de alguém que,por acaso não é professor,
vieira da silva