sábado, setembro 04, 2004
O Pravda não mudou e Vladimir Putin também não
A propósito do clima "russófobo" lançado por alguns jornais ocidentais, e nomeadamente ingleses, o Pravda.ru publica e critica um pequeno artigo, escrito pelo Christian Science Monitor :"Um artigo do The Guardian sobre a crise [dos reféns na escola de Beslan] afirma que se as tensões aumentarem em Beslan, isso poderá levar a um sério conflito armado no Cáucaso. De acordo com especialistas do jornal inglês, a situação pode ser resolvida por conversas pacíficas com membros independentes da oposição chechena. O Christian Science Monitor sugere que os EUA e a ONU aumentem a pressão sobre Moscovo, para que a Rússia inicie conversas pacíficas na Chechénia. O Christian Science Monitor critica a resolução da ONU que condena o acto terrorista em Beslan."
E o Pravda acrescenta: "Este pequeno trecho já mostra bem a completa incongruência da imprensa ocidental. Todos os média dos EUA e da Grã-Bretanha apoiaram entusiasticamente a guerra dos seus países contra o Iraque, que não financiava terroristas nem era uma ameaça a qualquer nação. George Bush e Tony Blair, referindo-se a Saddam Hussein, diziam que "não se pode negociar com terroristas", e afirmavam que a guerra era a única solução. Agora, diante de terroristas que explodem aviões e estações de metro e tomam uma escola com mais de 1000 crianças, essa mesma imprensa afirma que "o único caminho é o diálogo", e ainda chega ao cúmulo de criticar a condenação dos ataques terroristas."
Ora, a guerra contra a Chechénia visa, como declarou Putin, "manter a integridade total do território russo", ou seja, reconquistar a Chechénia e impedir qualquer movimento separatista noutras repúblicas que possa desagregar de vez a cambaleante economia russa. Os EUA e a Inglaterra, que controlam a exploração petrolífera e de gás na Geórgia, Arménia e Azerbaijão - ex-repúblicas soviéticas que são agora controladas, como semicolónias, por governos ocidentais - temem que uma expansão militar da Rússia, reforçada pela vitória na Chechénia, possa estimular Moscovo a tentar dominar novamente a região, ou pelo menos tornar-se uma ameaça real ao controle político que o imperialismo exerce nessas repúblicas, forçando concessões ao Kremlin.
Esse é um elemento de contradição entre os interesses da burguesia russa e do imperialismo ocidental, que determinará os choques futuros entre ambos. O facto de Putin ter aprovado um documento onde defende que a Rússia pode utilizar o seu arsenal nuclear para "proteger a sua unidade territorial e defender-se dos inimigos externos" reforça essa tentativa do governo russo de demonstrar que colocará obstáculos ao domínio imperialista na região.
Entretanto, vai continuando a Matança dos Inocentes. Ontem, assistimos, em directo, a mais um espectáculo de extremo amadorismo e incompetência demonstrado pelas autoridades russas - faltava tudo, não havia ambulâncias, não havia perímetro de segurança e o grupo das "forças especiais" não fez mais do que improvisar. E depois, a tentativa constante de manipular a opinião pública sobre o real impacto da catástrofe, como nos velhos tempos do KGB, que Putin tão bem conheceu...
É óbvio que isso não diminui a responsabilidade dos terroristas. Mas, destes, não esperávamos outra reacção. É ao estado que cabe a protecção e o salvamento das vidas humanas. Pelos vistos, não é só na economia que a Rússia cambaleia...
:: enviado por JAM :: 9/04/2004 07:47:00 da tarde :: início ::