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segunda-feira, janeiro 31, 2005

Chirac, um alter-mundialista na clandestinidade?

© Gado, Editorial Cartoonist; Daily Nation, Nairobi. (clique na imagem para aumentar)

Há quem fique na História por actos heróicos, há quem fique na História por grandes descobertas e há quem fique na História pelas piores razões. Outros há que não tendo grandes ideias, não sendo heróis e não quererem passar para a posteridade como criminosos, querem mesmo assim ficar na História. Jacques Chirac é um destes últimos.
Depois de várias tentativas ligadas aos “grandes avanços” da União Europeia, até agora todas fracassadas com estrondo, resolveu, na reunião anual do Forum Económico Mundial em Davos, fazer uma série de propostas “revolucionárias”.
Sempre no propósito, popular e bem intencionado, de ajudar os países pobres a sair da miséria onde chafurdam há séculos, propôs algumas medidas a escolher em função da maneira como acordamos de manhã. Vamos lá por ordem: a primeira seria a de, nos países que mantêm o segredo bancário (não foi claro do porquê de só estes países), aplicar uma taxa sobre todos os movimentos de capitais. Se não gostarmos desta medida poderemos (também não foi claro se as medidas são alternativas ou cumulativas) optar por um imposto sobre o combustível utilizado nos aviões e barcos. Se estas medidas tiverem uma grande oposição - previsível - de banqueiros e grandes empresas de transportes fica a alternativa, mais simples, de pagarem todos através de uma taxa de um dólar a aplicar a cada bilhete de avião vendido.
Todo este dinheiro assim recolhido seria depois, sob a égide de uma organização qualquer da ONU, distribuído pelos países pobres a fim de erradicar a SIDA e tirá-los do atoleiro miserável em que se encontram.
Perante propostas tão arrojadas e inesperadas, desde logo aplaudidas por todos os grupos alternativos-a-qualquer-coisa, fiquei a pensar se o sr. Chirac teria perdido o juízo (hipótese que ainda estou a considerar) ou apenas quis que falassem de si.
Na mesma linha nada demagógica de tratar os problemas do mundo, complemento o pensamento do Sr. Chirac propondo duas ou três medidas que a França pode decidir de imediato, sem passar por essa pequena complicação que é convencer o resto do mundo. Assim, proponho que todas as casas compradas na Côte D’Azur por ditadores sejam objecto de uma taxa, bem como todas as compras de artigos de luxo em Paris. Em alternativa a França poderá também recolher um imposto sobre a venda de armas francesas a países com regimes brutais e repressivos. O dinheiro assim obtido será entregue de imediato aos presidentes dos países menos favorecidos onde a França explora as respectivas riquezas.
Sejamos sérios. Os países africanos ou da América do Sul ou da Ásia não são pobres. A esmagadora maioria da sua população é pobre, o que é diferente.
Aproveitando a boleia do Sr. Chirac, o presidente angolano já pediu ao seu amigo Durão Barroso que presidisse a uma conferência internacional de dadores para Angola. Dadores para Angola !? para dar o quê? Eu pensava que Angola era um dos países mais ricos do mundo !
Enquanto continuarmos a alimentar a vaidade e a corrupção de ditadores, enquanto aceitarmos que uma empresa não tem que ter ética e que pode saquear todos recursos de um país incluindo a mão de obra, estas propostas não passam do que realmente são: propostas para o mundo ouvir e esquecer. E ficar na História como um visionário incompreendido.
Pensando bem, provavelmente o Sr. Chirac não perdeu nada o juízo e até é bastante lúcido. Esta espécie de caridade feita assim a coberto da salvação da Humanidade não será a melhor garantia de que as somas colossais enviadas para o terceiro-mundo voltarão rapidamente para o Ocidente (depois de paga a respectiva comissão local) para dar um empurrãozito nas nossas economias?
Desculpe sr. Chirac mas, para esse peditório, já dei.

PS: poderá Portugal ser considerado um país pobre e receber uma percentagem do dinheiro da taxa sobre os bilhetes de avião? Prometo que não comprarei um telemóvel novo com o que me tocar.

:: enviado por U18 Team :: 1/31/2005 02:50:00 da tarde :: início ::
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