domingo, janeiro 30, 2005
Iraque, a coragem
Confesso que estou impressionado. Vi hoje imagens do Iraque que mostravam filas para votar. Vi pessoas a votar numa assembleia de voto que tinha sido atacada duas horas antes. Vi iraquianos a orgulharem-se de votar sem medo.
Há hora em que escrevo estas linhas ainda não se conhecem os resultados das eleições. Também não é, por agora, o mais importante. O que é de assinalar é que os iraquianos foram votar. Anuncia-se 60% de votantes o que é superior à maioria das taxas de participação em democracias mais antigas e mais consolidadas. Plagiando um slogan infeliz de campanha eleitoral portuguesa, “Contra ventos e marés” os iraquianos votaram.
Independentemente da posição que possamos ter sobre a guerra no Iraque e o papel dos Estados Unidos, creio que só nos podemos regozijar por haver eleições num país que teve até há pouco tempo uma ditadura.
Estas eleições realizaram-se num clima de insegurança e, logo, de falta da liberdade desejável num acto eleitoral? Não discuto. Só não houve mais atentados porque as medidas de segurança foram apertadíssimas? Sem dúvida. A arrogância americana meteu-os num sarilho que não sabem como resolver? Talvez. As eleições não desenlaçam o nó em que se transformou o Iraque? Claro que não. Uma parte do país alheou-se destas eleições? É verdade. A taxa de participação está inflacionada pela deficiências dos cadernos eleitorais? Provavelmente.
Todas estas questões podem, e devem, ser discutidas. No entanto, para mim o mais importante neste momento é que ainda há lugares na Terra onde pessoas não se importam de arriscar a vida para depositarem um papel numa urna de voto. Afinal, ainda há esperança. O mundo é o que é e não aquilo que gostaríamos que fosse. Para os mais esquecidos peço apenas que se recordem em que condições de liberdade e segurança se passou o antes, o durante e o pós referendo sobre a independência de Timor. Os timorenses não se deixaram intimidar, os iraquianos também não.
Podemos interrogar-nos sobre a maneira como os EUA se envolveram nesta guerra e que interesses poderão estar na base desse envolvimento. Mas também não nos podemos esquecer que o Iraque se tornou no lugar de concentração da maior turba de tarados, lunáticos e psicopatas que se pode reunir. A ter que escolher entre a insanidade do fundamentalismo e os interesses económicos ainda prefiro os últimos. Pelo menos posso ver mulheres na rua que não estejam cobertas da cabeça aos pés.
:: enviado por U18 Team :: 1/30/2005 10:29:00 da tarde :: início ::