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quarta-feira, junho 29, 2005

Os Ministros

Em Portugal há uma tão grande falta de casas que metade estão vazias.
Como por aí anda alguém a querer demolir a casa ao ilustre defunto, fui "falar com os mortos" que responderam assim:

"Dizia um secretário de Estado, meu amigo, que, para se repartir com igualdade o melhoramento de ruas por toda a Lisboa, deviam ser obrigados os ministros a mudar de rua e bairro todos os três meses. Quando se fizer a lei de responsabilidade ministerial, para as calendas gregas, eu hei de propor que cada ministro seja obrigado a viajar por este seu reino de Portugal ao menos uma vez cada ano [...]"

"Não concebem um secretário de Estado filósofo, um ministro poeta, escritor elegante, cheio de graça e de talento? Não, bem vejo que não: têm a idéia fixa de que um ministro de Estado há de ser por força algum sensaborão, malcriado e petulante. Mas isto é nos países adiantados em que já é indiferente para a coisa pública, em que povo nem príncipe lhes não importa já, em que mão se entregam, a que cabeças se confiam."

"Sim senhor, digo: está consolidado. E se não sabe o que isto quer dizer, leia os orçamentos, veja a lista dos tributos, passe pelos olhos os votos de confiança; e se depois disto, não souber aonde e como se consolidou o pinhal da Azambuja, abandone a geografia que visivelmente não é a sua especialidade, e deite-se a finanças, que tem bossa; fazemo-lo eleger aí por Arcozelo ou pela cidade eterna — é o mesmo — vai para a comissão de fazenda — depois lorde do tesouro, ministro: é escala, não ofendia nem a rabugenta Constituição de 38, quanto mais a Carta."

"Não havia em Florença nem gazeta para louvar as tolices dos ministros, nem ministros para pagar as tolices da gazeta.
O Dante foi proscrito e exilado, mas não se ficou a escrever, deu catanada que se regalou nos inimigos da liberdade da sua pátria.
Quem dera cá um batalhão de poetas como aquele!"

"Esperam muito, prometem muito, estão em todo o vigor das suas ilusões. E nós, nós carregamos com o desengano de muitos séculos, com os pecados de trinta gerações que passaram, e com a inaudita corrupção do presente... nós havemos de sucumbir. Os templos hão de ser destruídos, os seus ministros proscritos, o nome de Deus blasfemado à vontade nesta terra maldita."

"Creio que me vou fazer homem político, falar muito na pátria com que me não importa, ralhar dos ministros que não sei quem são, palrar dos meus serviços que nunca fiz por vontade; e quem sabe?... talvez darei por fim em agiota, que é a única vida de emoções para quem já não pode ter outras.
Adeus, minha Joana, minha adorada Joana, pela última vez, adeus."

in Viagens na Minha Terra de Almeida Garret

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Muito mais se poderia transcrever, mas como diz o Jam os posts devem ser curtos e um morto a arrasar os vivos é coisa deveras humilhante...

:: enviado por RC :: 6/29/2005 04:58:00 da tarde :: início ::
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