domingo, junho 26, 2005
Para a próxima mando o dinheiro para a embaixada dos Estados Unidos
Faz hoje 6 meses que a tragédia do tsunami atingiu o sudeste asiático. Porque também contribuí para a assistência humanitária e porque gosto de saber de que maneira o meu dinheiro é utilizado, fiz uma pesquisa rápida no Google: “tsunami aid 6 months”. O que encontrei foi isto: apenas uma pequena parte dos fundos foram aplicados a ajudar as pessoas. Um pouco surpreendido, procurei um pouco mais e fui lendo que uma parte do dinheiro (não se sabe quanto mas desconfia-se que bastante) foi para os habituais corruptos, enormes quantidades de bens de primeira necessidade continuam amontoados em armazéns, as ONGs vão-se entretendo no campeonato do “quem faz mais humanitarismo”, quem recebeu mais ajuda foram as pessoas com mais posses, milhares de pessoas continuam a viver em campos de refugiados e mandam-se barcos que não servem para coisa nenhuma por inadaptação às águas locais.
Entretanto, os americanos mandaram militares poucos dias após a catástrofe. Com médicos, enfermeiros e engenheiros, além de pessoal para manter alguma ordem e distribuir bens de primeira necessidade. Ao mesmo tempo, enviaram um barco militar para servir de base à distribuição da ajuda humanitária para não terem que passar pelos armazéns locais. Agora canalizam a ajuda através da USAID, uma organização governamental e profissional. Constroem escolas, casas, tentam restabelecer um mínimo de economia local e vão gastando o dinheiro em função das necessidades. Não fizeram mais porque o habitual coro de criticas a tudo o que é americano – não se coordenaram com a ONU nem com as ONGs, são tropas de ocupação, não disponibilizaram logo o dinheiro necessário, etc. – os obrigou a recuar. No entanto, a intervenção americana parece-me de alguma sensatez: quem melhor que os militares para intervir em situações de urgência? Quem melhor que os militares para impor algum respeito a autoridades locais mais interessadas no negócio humanitário do que em ajudar realmente as populações? Em situações tão dramáticas, não será melhor salvar vidas primeiro e falar de “ocupação militar” depois? Não estarão as organizações profissionais, controladas por um poder democrático, melhor posicionadas para a ajuda após a urgência?
Manda o politicamente correcto que as ONGs são puras e bem intencionadas e que os americanos são malvados e mal intencionados mas, se calhar, o mundo não é tanto assim a preto e branco.
Pensem o que quiserem, para a próxima mando o dinheiro para a embaixada dos Estados Unidos. Pelo menos sei a quem pedir contas.
:: enviado por U18 Team :: 6/26/2005 04:27:00 da tarde :: início ::
1 comentário(s):
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Há dias, num programa da France2, foi convidado um francês apaixonado pelo Sri Lanka que tinha feito a opção de viver 6 meses em França e 6 meses em Ceilão. No dia do tsunami estava no Sri Lanka. Na sua casa à beira mar. Salvou-se por milagre, agarrado a um coqueiro, mas perdeu a neta que brincava em casa com uma amiga local. A filha e o genro também se salvaram pois tinham providencialmente ido às compras ao mercado.De JAM, em junho 26, 2005 11:25 da tarde
A revolta por não ter conseguido salvar a neta, a desolação de todo o povo da aldeia que ficou sem nada e uma providencial entrevista à televisão, que lhe deu notoriedade, fê-lo avançar nos caminhos da solidariedade que desconhecia totalmente. Criou uma associação destinada a ajudar na reconstrução da aldeia. A pouco e pouco, conseguiu ver alguns frutos dos seus esforços. Para poder fazer ainda mais, pediu ajuda à Cruz Vermelha francesa e... pasmem... ficou a saber que a Cruz Vermelha tinha amealhado 100 milhões de euros de donativos. Tinham já gasto 9 milhões em algumas ajudas e... tinham ainda (cinco meses e meio depois da catástrofe) 91 milhões depositados em títulos no banco, porque ainda não tinham encontrado organizações locais com quem estabelecer contacto.
Um responsável da Cruz Vermelha convidado a comentar as afirmações do honorário srilankês, não fez mais do que confirmar, adiantando que... bla, bla, bla, é muito difícil trabalhar no terreno, onde não se conhece ninguém, e... bla, bla, bla, que as formalidades aduaneiras, demasiado burocráticas... Mas que (sem dúvida, para acalmar os ânimos) estava disposto a dar algum dinheiro àquele que o estava a interpelar, já que pelos vistos tinha conseguido criar uma associação e já conhecia bem a realidade local...
91 milhões de euros, ainda depositados, à espera...