segunda-feira, junho 06, 2005

Vocês é que sabem

Já há algum tempo que venho seguindo este drama pessoal de Cavaco Silva: por um lado sabe que nasceu na época errada e que os tempos não correm de feição para ditaduras, por outro acha uma imbecilidade isto de perguntar às pessoas o que pensam.
Não conseguindo resolver este problema fundamental da sua cabeça, vê a democracia como uma espécie de ditadura em que se vota todos os x anos e espera que, de preferência, o x tenda para o infinito.
Parênteses: já repararam que Cavaco Silva, quando fala sobre alguém, tem sempre a elegância de referir que o dito já foi seu aluno ? Será para, de uma forma subliminar, nos dizer que está acima disto tudo ? Chego a ter a impressão que o país foi todo seu aluno. Eu, que nunca tive aulas com Cavaco Silva, sinto-me cada vez mais sozinho. Fechar parênteses.
Vem isto a propósito das suas declarações, e de outros, sobre os referendos. Parece que, e cito, “sabe-se como começam mas não se sabe como acabam”. Eu pensava que a frase se podia aplicar a quaisquer eleições mas parece que é só para os referendos. Seja.
Creio que não merece a pena fazer grandes dissertações sobre os limites da democracia representativa ou como determinados assuntos ultrapassam as fronteiras partidárias. De qualquer maneira, quem reduz a democracia a votações partidárias não o iria compreender.
Em vez disso, para contentar Cavaco Silva e os outros que pensam como ele, proponho que, nos referendos futuros, em vez do “Sim” e do “Não”, clássicos e redutores, se passe a incluir a resposta “Vocês é que sabem”. Desta maneira Cavaco Silva já não sentirá repulsa por ter de fazer campanha eleitoral. Basta que defenda o “Eu é que sei”.