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segunda-feira, julho 04, 2005

Sim ou não: eis a questão

Devo confessar que tenho algumas dificuldades em entender como é que uma parte da esquerda francesa se vangloria a considerar que a vitória do não ao tratado constitucional europeu é uma vitória «da esquerda e dos trabalhadores», para isto fingindo que não se lembra que essa vitória foi obtida com os votos dos partidários de um certo Jean-Marie Le Pen.

Pessoalmente, não gostaria de estar associada a esse senhor para coisa nenhuma e de preferência para dizer não a um tratado que apesar de tudo, na minha modesta opinião, até consagrava alguns direitos sociais importantes. Sobretudo, tenho a certeza que, dada a conjuntura actual, não vamos certamente conseguir nenhum outro tratado que seja socialmente mais favorável, e é pena. E não é certamente a «terceira via» do Tony Blair que vai favorecer o desenvolvimento dos direitos sociais a nível europeu. Pelo contrário, acho que podemos contar nos anos mais próximos com uma longa fase de «glaciação social».

O que me surpreende um pouco nesta paixão em relação ao tratado constitucional é que me dá a sensação que muita gente ainda não entendeu que apesar de se lhe chamar constituição, não passa de um tratado internacional e que, como tal, tem que ter em conta as diferenças culturais, sociais e económicas dos diferentes países membros. Para mim é assim que deve ser. Não se trata de criar uma europa federal mas sim de manter cada país com as suas características específicas e a sua independência. Para isso é necessário aceitar essas diferenças. Na verdade é principalmente graças à aceitação dessas diferenças que a União europeia nos garantiu 60 anos de paz na Europa ocidental.

No fundo esta história dos referendos faz-me lembrar que quando vamos passar férias com amigos a maior dificuldade é sempre de explicar aos meus filhos que quando estamos com outras pessoas nem sempre podemos fazer exactamente aquilo que queremos. E convencê-los que temos que aceitar ter em consideração os desejos dos outros e tentar encontrar uma solução aceitável para todos. Lembro-me de uma vez que fomos passar alguns dias com alguns amigos e respectivas crianças na Normandia. Num dos dias em que estávamos a tentar organizar o que íamos fazer durante o dia, surgiu um conflito entre as crianças mais novas que queriam ir ver um parque onde supostamente havia uma tartaruga com duas cabeças e os mais crescidos que queriam ir visitar o Mont Saint-Michel. Vendo que não se conseguiam entender, os adultos resolveram propor uma visita às praias onde desembarcaram as tropas aliadas durante a segunda guerra mundial. Foi uma ideia providencial. Todos adoraram porque houve uma mistura de passeios pelas praias com visitas a museus e projecções de filmes. Tiveram a ocasião de entrar dentro dos contentores que ainda se encontram encalhados na praia de Arromanches e que são pedaços do porto flutuante que permitiu o desembarque das tropas, etc.

Foi muito divertido e todos regressaram muito contentes de termos feito esta visita. Foi principalmente uma óptima ocasião para os mais pequenos aprenderem uma parte da história da humanidade que ainda não conheciam. Para os mais crescidos foi a oportunidade de se darem conta que afinal a história não é só nos livros e que, apesar das tentativas de pessoas como o senhor Le Pen de dizerem que certos factos não aconteceram, os vestígios são bem reais. E para nós adultos foi a ocasião de relembrar que temos o dever de não esquecer.
Parece-me que uma visita pelas praias da Normandia seria recomendável para uma certa parte da esquerda francesa.

:: enviado por Anónimo :: 7/04/2005 02:44:00 da tarde :: início ::
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