quarta-feira, novembro 02, 2005

O mundo está a ficar perigoso

Segundo a OIKOS, as 100 maiores fortunas portuguesas representam 17% do Produto Interno Bruto e 20% dos mais ricos controlam 45,9 % do rendimento nacional.

Segundo tudo indica, e já cá se sabia, caminhamos, em termos europeus, para ficar confinados ao circulo mais afastado do centro, paredes-meias com os excluídos do continente africano (os tais que, diáriamente, arriscam a vida – para a poder ganhar – a saltar a cerca da vergonha em Melilla ou a enfrentar em cascas de nozes o Oceano Atlântico ou o Mar Mediterrâneo). Caminhamos para contarmos no mundo tanto como eles – e eles, claro, não contam: em caso de necessidade sacodem-se para o deserto, como lixo que se esconde debaixo do tapete. Não contam eles, nem os negros pobres de New Orleans, nem os paquistaneses soterrados pelo recente terramoto, nem os iraquianos que morrem todos os dias às dezenas, etc, etc...
E segundo tudo indica (é aqui que entram os números da OIKOS), cá dentro do nosso rectângulo, o fosso entre ricos e pobres alarga-se e aprofunda-se, pelo que caminhamos para uma situação em que os arrastões nas praias hão-de deixar de ser ficção, em que a guerrilha urbana de arrabalde (NO FUTURE!) há-de explodir como está agora a acontecer em Paris, em que, como no Brasil, os condomínios fechados de luxo hão-de coexistir com as favelas, em que uns só se hão-se sentir seguros na rua com uma arma de fogo no bolso e outros hão-de precisar dela para conseguir dinheiro para matar a fome...
Faz lembrar aquelas histórias de banda desenhada pós-apocalípticas em que o homem volta a ser o lobo do homem...
Como diria o outro: o mundo está a ficar perigoso.