terça-feira, novembro 01, 2005
O tsunami de Lisboa
Rezam as crónicas que o Dia de Todos os Santos de 1755 amanheceu esplêndido em Lisboa. Que as famílias de bem foram passar o feriado a Sintra. Que os menos ricos acenderam velas em memória dos seus mortos ou foram aos cemitérios rezar.Pelas 9h20, em cerca de dois minutos, a calma, a beleza e a riqueza de uma das cidades mais velhas e ricas do Ocidente converteu-se em morte, pânico e desolação. A terra tremeu durante seis minutos e voltou a tremer várias vezes mais, até um total de 17, e abriu-se em fendas enormes. Então as velas produziram incêndios por toda a cidade. Os sobreviventes fugiram para a baixa, junto ao Tejo, procurando refúgio nos barcos. Duas horas depois, um maremoto com ondas entre seis e vinte metros deixou à vista o leito do rio e inundou a parte baixa da cidade matando muitos dos que se tinham salvo. Só em Lisboa, acabou com a vida de entre cinquenta a noventa mil habitantes, dos 250.000 que tinha a cidade.
O tsunami posterior destruiu inúmeras povoações do Algarve e afectou gravemente as costas de Marrocos, Huelva e Cadiz. As ondas chegaram à Martinica, aos Barbados, à América do Sul... e a onda de choque até Voltaire, Kant e Rousseau. Os filósofos do iluminismo encarregaram-se de salientar que aquela desgraça que muitos atribuíam a um castigo divino não passava de um desastre natural que reflectia a fragilidade humana ante a natureza.
:: enviado por JAM :: 11/01/2005 07:11:00 da manhã :: início ::