BRITEIROS: Quarenta anos do assassinato de Ben Barka <$BlogRSDUrl$>








domingo, outubro 30, 2005

Quarenta anos do assassinato de Ben Barka

Em 29 de Outubro de 1965, Mehdi Ben Barka, opositor marroquino ao regime de Hassan II e figura intelectual e política do anti-colonialismo, foi preso em pleno boulevard Saint-Germain em Paris, pelos serviços secretos marroquinos, com a ajuda de agentes franceses. Conduzido para casa de um bandido conhecido, nos arredores da capital francesa, com a conivência e o apoio logístico de outros serviços secretos, entre os quais a CIA e o Mossad israelita, o corpo do líder marroquino nunca foi encontrado.
O segredo de Defesa, invocado como instrumento jurídico no tribunal, nunca permitiu que se soubesse a que nível chegou a responsabilidade do aparelho de Estado francês. Mas a personalidade da vítima e a amplitude do escândalo suscitaram a indignação da opinião pública e tornaram o caso Ben Barka um pesado fardo que ainda hoje subsiste para os Estados marroquino e francês.
Entre a guerra da Argélia e o Maio de 68, toda uma geração foi longamente marcada pelo assassinato de Ben Barka, que permitiu revelar que o combate revolucionário internacionalista era muito mais do que a épica guerrilha guevarista das montanhas bolivianas, e podia igualmente tomar a forma sinistra de uma guerra subterrânea, implicando dirigentes políticos responsáveis, em pleno coração intelectual e artístico de Paris.
Paris que é cenário este fim de semana de uma homenagem a Ben Barka, com um colóquio no Senado, o descerramento no local do rapto de uma placa toponímica pelo presidente da câmara, Delanoë, e um filme de Serge le Péron, ”J’ai vu tuer Ben Barka”, que recoloca no centro do caso a armadilha cinematográfica que cegou o opositor marroquino, atraído como uma “starlette” pelos nomes com que lhe acenavam: a realização de Georges Franju e Marguerite Duras na encenação. Um pretenso filme sobre a descolonização, no qual Ben Barka seria o conselheiro técnico.
O filme de Serge le Péron, que estreará esta semana nas salas francesas, põe por isso em evidência esse paradoxo cruel e doloroso do cinema, e da arte em geral, que sendo armas de libertação podem igualmente ser utilizados como instrumentos de manipulação.

:: enviado por JAM :: 10/30/2005 09:08:00 da manhã :: início ::
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