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quinta-feira, dezembro 29, 2005

América Latina, esse grande laboratório político-social

Ao tornar-se, na semana passada, o primeiro presidente índio da América Latina, o boliviano Evo Morales acentuou a viragem à esquerda dos países latino-americanos iniciada com a eleição, em Outubro de 2002, de Lula da Silva, no Brasil. País pobre de oito milhões de habitantes, a Bolívia é um concentrado de História latino-americana. Cansada pelo seu número recorde de golpes de Estado (um por ano, em média, desde a independência em 1825!), a Bolívia tinha sido usada como laboratório das privatizações do continente desde os anos 80 e experimentou, antes dos seus vizinhos, o liberalismo dos anos 90, as chamadas medidas do “consenso de Washington”.
Para as populações latino-americanas, fartas do desemprego, da pobreza e da criminalidade, essas políticas liberais dos anos 90 tornaram-se na encarnação do mal. A ascensão de Evo Morales, tal como as de Hugo Chavez na Venezuela, de Lula no Brasil, de Nestor Kirchner na Argentina e do socialista Tabaré Vasquez no Uruguai, são outras tantas reacções viscerais e gritos de revolta. O movimento ainda não parou e poderá prosseguir em 2006, numa altura em que a América Latina prepara uma maratona democrática com uma dúzia de eleições. A socialista Michelle Bachelet poderá abrir o baile, no Chile, em 15 de Janeiro, na sequência duma campanha marcada pelo debate sobre a desigualdade. No Peru, Ollanta Humala, oriundo do Movimento Nacional Peruano, um partido indigenista, militarista e anti-ocidental, espera criar a surpresa ao jogar a carta da comparação com Evo Morales. Na Nicarágua, a História poderá repetir-se com o regresso ao poder do sandinista Daniel Ortega...
Após anos de apatia, os ventos são de provocação na América Latina. Chavez tornou-se o porta-estandarte desse movimento, acompanhado por Kirchner, que assenta a sua popularidade no alijamento do FMI. Face a esta grande onda de esquerda, a atitude que irão adoptar os Estados Unidos será a grande incógnita para 2006. Será que vão continuar a fazer frente a Chavez, Kirchner e Morales, como sempre fizeram com Fidel ou com os sandinistas? É que isso seria esquecer que de La Paz à cidade do México, de Caracas a Buenos Aires, o êxito desses homens é a expressão de uma revolta, uma resposta ao crescimento das desigualdades.

:: enviado por JAM :: 12/29/2005 10:15:00 da manhã :: início ::
1 comentário(s):
  • Sobre reportagem do Financial Times (FT) à respeito da América Latina (AL) e a onda nas bolsas (de ontem)...
    Lamentável equívoco do FT... A américa latina no médio prazo é o melhor lugar para investimento... Se considerarmos que o retrocesso hoje (leia-se crise) ocorre nos países ´cabeça-dura´ e ´antiquadões´, a AL têm finalmente governantes com uma mentalidade diferente e mais aberta à democracia e ao crescimento econômico... enquanto países que têm mantido as velhas políticas (leia-se governado pelos mesmos velhos políticos de sempre, com cabeça nas décadas de 60,70,80) tem tido mais dificuldade em se adaptar ao mundo novo que está aí. Isso pode ser notado às vezes no radicalismo e preconceito com que abordam as principais questões de seus países... A AL é uma região que hoje está preparada para novos tempos, pois a mentalidade da população está mudando.... Da mesma forma que Bush e cia. não conseguem se apoiar no mundo atual, investidores que não conseguirem enxergar essa nova realidade (e ficar na velha politica econômica de 60,70,80,90) pode ter uma desagradável surpresa nos próximos anos... Somente um ignorante hoje pensaria que retirar dinheiro de países em crescimento e investir em titulos do governo americano seria menos arriscado... o EUA hoje é na realidade uma bomba econômica que não se sabe em quê vai dar... pode explodir a qualquer momento ou pode se desativar... Se a política antiquada e retrógrada de Bush continuar, teremos pelo menos este e mais 4 anos de maresia econômica no EUA... O mundo têm hoje grandes produtores que vão precisar de mercado... aquilo que o EUA não comprar, alguém terá de comprar e com certeza novas áreas de comércio se abrirão... essa é a tendência NATURAL da economia... Por maior que sejam as dificuldades, serão contornadas... Lembrem-se o que aconteceu quando os portugueses conquistaram os mares (é mais ou menos o que está para acontecer atualmente). E o EUA se continuar como está, hoje tem tudo para ser a grande potência que atualmente é ´Constantinopla´... Quem viver verá...

    De Anonymous Anónimo, em janeiro 25, 2008 12:06 da tarde  
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