BRITEIROS: Peru e as promessas não cumpridas do mercado <$BlogRSDUrl$>








domingo, abril 09, 2006

Peru e as promessas não cumpridas do mercado

Irá o Peru juntar-se às sociedades latino-americanas que, nos últimos anos se têm inclinado para governos de esquerda? Será possível que a ideia do crescimento económico se tenha tornado, em si mesma, politicamente incorrecta? Quem responde é o próprio descrédito do Mercado que não pára de se insinuar nos mais dispares lugares do planeta. Não faltam exemplos reveladores do esgotamento da economia mundial, desde as falências fraudulentas de conglomerados como a Enron, à invasão e ocupação do Iraque que, por detrás da máscara da segurança internacional, esconde a apropriação de recursos energéticos e de negócios bélicos.
Se analisarmos a crise politico-social francesa, damo-nos conta de que está em jogo muito mais do que uma simples lei para regular o trabalho juvenil. No refluxo, vê-se que o tema à superfície se encadeia com outros e que, no fundo, o que está em causa é o próprio modelo de organização social que pretendem os franceses. E se o professore Romano Prodi conseguir derrotar, hoje e amanhã, a direita enlameada que encarna o cavalliere Berlusconi, também isso será mais um sinal do estado da ideologia do mercado na Europa desenvolvida.

É evidente que o mercado não anda bem, nem sequer onde os números e as percentagens mostram uma realidade aparentemente bem sucedida. É o caso do Peru onde hoje se começará a decidir a sucessão de Alejandro Toledo. É curioso porque, se nos guiássemos pelos indicadores socio-económicos, a herdeira natural da visão conservadora do actual presidente, Lourdes Flores, deveria ser confortavelmente eleita, apesar de carecer do mais elementar dos carismas e da sua oratória passar muitas vezes à beira do ridículo.
O dilema sucessório peruano é igual ao da despedida de Toledo. No seu mandato, a economia tem crescido de uns respeitáveis 5% ao ano prometidos — este ano prevêem-se mesmo 6% — mas Toledo não tem conseguido dos seus concidadãos mais de que 15% de opiniões favoráveis, que nas últimas semanas baixaram para 8%. Por isso, de acordo com as sondagens, é quase certo que o Peru não elegerá hoje o seu próximo Presidente e que dois dos três principais candidatos — o ex-militar Ollanta Humala e o ex-presidente (1985-90) Alan Garcia, além de Lourdes Flores — deverão preparar-se para disputar uma inevitável segunda volta, em Maio.
A desconcertante conjuntura económica mundial — a que não é alheio o canto da sereia da Administração Bush e do seu agonizante projecto da ALCA — é favorável a Humala, um antigo militar que protagonizou um golpe de Estado contra Alberto Fujimori, e que propõe a nacionalização dos recursos minerais e dos centros estratégicos, como os portos, o que o projecta como um símil de Hugo Chávez.

Convenhamos que a ideia dos ditames do Mercado como soberano supremo da conduta humana está rapidamente a perder o seu atractivo entre os grandes públicos.


:: enviado por JAM :: 4/09/2006 08:16:00 da manhã :: início ::
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