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sexta-feira, abril 07, 2006

Como um mau ilusionista se transforma num mágico

Após a operação Mãos Limpas, o mundo político italiano ficou devastado. O grande magnata Berlusconi temia que o vencedor da crise pudesse vir a ser o partido comunista, o que poderia ameaçar o seu império mediático. Para salvar o seu grupo, já de si severamente endividado, Berlusconi decidiu-se então pela “descida à arena política”. Conta Pierre Musso que “Forza Italia não é mais do que a transformação, em poucas semanas, da sua agência de publicidade Publitalia em partido político”. Os directores comerciais tornaram-se candidatos e eleitos. Os empregados tornaram-se militantes sem igual. Mas não há dúvidas que esse sistema nunca poderia ter funcionado sem o vazio deixado pelas “Mani Pulite”, que destruiu os dois grandes partidos do pós-guerra: a democracia cristã e o partido socialista.
Inúmeros observadores concluíram, em 1994, que a vitória de Silvio Berlusconi se devera à manipulação da opinião pública, graças aos seus três canais de televisão. No entanto, não foi só nessa altura que Berlusconi dispôs da força dos seus media para conseguir a vitória eleitoral. A influência de Berlusconi sobre os eleitores italianos começou muito antes disso, quando, já nos anos 80, impunha a sua hegemonia ao chegar directamente à barriga dos consumidores por via das suas televisões comerciais. É ainda essa influência que lhe permite entregar-se agora, ao sentir-se acossado, a um dilúvio de acusações e insultos contra a imprensa, os juizes e todos os coglioni que se sintam tentados a não votar nele.
O que os italianos mais recriminam a Berlusconi não é o que ele fez, mas sobretudo o que ele não fez. Ele, que prometeu mudar tudo, apenas conseguiu promulgar leis que o ilibaram, a ele e às suas empresas, das acusações de corrupção e de manipulação das contas. Perante tudo isso, poder-se-á perguntar porque é que não é garantido que Berlusconi venha a sofrer uma pesada derrota nas eleições do próximo domingo. É muito simplesmente porque a oposição não tem sido muito convincente. Romano Prodi não tem uma ponta de carisma e a sua coligação de esquerda não soube apresentar um projecto coerente. A abstenção poderá assim ditar os resultados e revelar-se à medida do desencanto geral.

:: enviado por JAM :: 4/07/2006 07:07:00 da manhã :: início ::
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