BRITEIROS: Cuidado com as ilusões <$BlogRSDUrl$>








quinta-feira, agosto 10, 2006

Cuidado com as ilusões

Como escreve AF no post precedente, o pior cego é o que não quer ver, o que me leva a acrescentar que só quem não quer ver não concordará que os méritos da revolução cubana estão prestes a passar à História ― se é que não tinham passado já, desde a queda da União Soviética. Mas não há dúvidas que teve méritos, contrariamente às muitas detracções de que hoje é alvo. Basta dizer que, nos tempos da ditadura do sargento Batista, a ilha não era mais do que uma imensa fábrica de açúcar em que, depois do trabalho febril da safra, massas de jornaleiros passavam ao tempo morto ― oito meses de desemprego e de fome.
Mas todos sabemos, com essa certeza que nos dão os processos históricos, que quando Fidel Castro morrer ― o que, com os seus achaques de octogenário, começa a ser bem provável ― será quase impossível a sobrevivência do sistema que ele implantou em Cuba. E isso abrirá o caminho a um período de apaixonante incerteza: Será Condoleezza Rice a grande timoneira da transição? Florescerão as máfias como na antiga Europa de Leste? Haverá privatizações? Neste mar de dúvidas, só uma certeza emerge: o admirável povo cubano merece um respiro.
Só que, perante a inevitabilidade da mudança, os cubanos e a comunidade internacional vão ter que avançar com pezinhos de lã para evitar um colapso como o que aconteceu na União Soviética. O exemplo soviético mostra como as coisas não devem ser feitas. A privatização descontrolada e apressada, o desmantelamento das estruturas de cobertura social e a falta de transparência de todo o processo deram lugar a uma das sociedades mais pútridas da actualidade.
Para além disso, é preciso não esquecer que a União Soviética não estava a uns escassos quilómetros dos Estados Unidos, como é o caso de Cuba, o que torna evidente que as autoridades americanas não deixarão de interferir mais ou menos sorrateiramente no processo, quanto mais não seja por intermédio de todos os cubanos que reclamam os seus pertences pré-revolucionários. Isso somado ao ódio profundo ao imperialismo yanque e aos dissidentes batistinos, pode levar a um confronto civil, cujo desfecho é fácil de adivinhar sem Fidel.
Os russos lançaram-se sobre o grande pastel do capitalismo, empanturrando-se até à enfermidade. Esperemos agora que os cubanos consigam distinguir entre consumismo e democracia.

:: enviado por JAM :: 8/10/2006 10:08:00 da manhã :: início ::
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