sexta-feira, setembro 08, 2006
As FARC, a Colômbia e Ingrid Betancourt
Numa entrevista realizada no dia 18 de Agosto na selva colombiana e publicada no jornal francês Le Figaro em 23 de Agosto, Raul Reyes, o número dois das FARC, afirma que Ingrid Betancourt “está bem, tendo em conta as condições em que se encontra: na selva, com a humidade, os mosquitos e na total impossibilidade de comunicar com a família...”.Foi pena que ninguém tenha aproveitado a passagem dos representantes das FARC pela Festa do Avante ― Jerónimo de Sousa, por exemplo ― para saber se Ingrid Betancourt e os outros reféns civis sequestrados pela guerrilha comunista vão ser ou não libertados num futuro próximo.
É que as FARC persistem em ligar a sorte dos reféns à dos seus combatentes detidos nas prisões colombianas: “Há vinte anos que existem guerrilheiros presos na Colômbia. Se os guerrilheiros podem passar vinte anos na prisão, os outros também podem”. [sic]
Oficialmente, as FARC declaram-se dispostas a soltar as personalidades detidas, em troca da libertação dos seus combatentes: é o que se designa na Colômbia uma “troca humanitária”. Ora, ainda segundo as declarações de Raul Reyes, “o projecto de troca humanitária está em ponto morto”. As FARC declaram não ter nenhum contacto com o governo do presidente Uribe, que acaba de ser reeleito por mais quatro anos. Por isso, continuam a reclamar a retirada das forças governamentais de dois distritos do Sudoeste da Colômbia, numa superfície de 785 km², para aí se proceder à troca de prisioneiros, exigência em relação à qual Álvaro Uribe sempre se declarou hostil.
É essa a lógica da guerrilha comunista, fruto de duas gerações de suspeição e de guerra, que agora está na origem da onda de indignação lançada pelo Tugir: a lógica das FARC, que põe no mesmo plano os civis que detêm e os seus combatentes presos.
:: enviado por JAM :: 9/08/2006 12:07:00 da manhã :: início ::
5 comentário(s):
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Dei uma espreitadela ao site do PCP e encontrei lá este esclarecimento que aqui coloco:De , em setembro 08, 2006 12:23 da manhã
"A propósito das notícias
sobre a presença das FARC na Festa do «Avante!»
(07.09.2006)
Tendo em conta as notícias vindas a público pela comunicação social e respectivas declarações de entidades diplomáticas e do estado português sobre a presença das FARC na Festa do “Avante!” tona-se público o seguinte:
«1 - A exemplo de anos anteriores, participaram na Festa do “Avante!” – a convite do PCP – 43 partidos e organizações progressistas de todo o mundo, transformando-a num importante acontecimento internacional e num grande espaço de solidariedade internacionalista e de luta contra o imperialismo. Facto que, por si só, revela os profundos laços de cooperação e amizade que o PCP mantém com partidos e povos de todo o mundo e que raramente é noticiado pela comunicação social portuguesa como um dos aspectos mais ricos da Festa do “Avante!”
2 - Os princípios que norteiam os convites decididos pelo PCP para a Festa do “Avante!” e outras iniciativas, baseiam-se exclusivamente na sua política de relações internacionais e na solidariedade dos comunistas portugueses para com aqueles que em todo o mundo desenvolvem processos de resistência e luta contra as políticas anti-sociais, antidemocráticas e belicistas das principais potências imperialistas, ou de governos claramente manietados e instrumentalizados por essas potências – como é o caso do governo colombiano. Assim, estiveram em Portugal organizações de países e povos que prosseguem corajosamente processos de luta contra essas políticas como são exemplos o Partido Comunista Libanês, várias organizações palestinianas, nomeadamente a OLP, o Partido Comunista de Cuba, o Partido Comunista da Boémia e Morávia, etc…
3 - No quadro dos convites efectuados para a Festa do Avante - de acordo com os princípios enunciados anteriormente - estiveram presentes nesta iniciativa duas organizações provenientes da Colômbia a saber: O Partido Comunista Colombiano e a Revista “Resistência”.
4 - O PCP aproveita esta oportunidade para denunciar as tentativas de criminalização da resistência ao grande capital e ao imperialismo e para reiterar a sua frontal oposição à classificação pelos EUA e União Europeia das FARC - uma organização popular armada que há mais de 40 anos prossegue, entre outros objectivos, a luta pela real democracia na Colômbia e por uma justa e equitativa redistribuição da riqueza, dos recursos naturais da Colômbia e da posse e uso da terra – como organização terrorista.»
Nota do Gabinete de Imprensa do PCP
http://www.pcp.pt/index
PS: Afinal foram à festa, “viram” a bandeira das FARC e nem repararam que o Stand "era" do PC Colombiano e da Revista "Resistência"... O que lhes interessa afinal parece ser mostrarem que são alunos obedientes da CE que há três escassíssimos meses (29 de Maio...) resolveu "ilegalizar" uma organização que há mais de 40 anos luta pela democracia no seu país e por uma mais justa redistribuição da riqueza! -
Isto passou-se esta semana na Colômbia:De , em setembro 08, 2006 12:27 da manhã
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=7176 -
Margarida:De JAM, em setembro 08, 2006 9:53 da manhã
A notícia do JN é clara e não deixa margens para dúvidas. O próprio PCP não a desmentiu: Jerónimo de Sousa admitiu a presença de membros das FARC na edição deste ano da festa do Avante. E acrescentou que, apesar dos métodos utilizados pelas FARC, "que o PCP não usaria", existe uma "grande solidariedade" com o movimento porque "a maior violação dos direitos humanos é impedir que um povo tenha direito à sua soberania, à sua liberdade".
Tudo bem!...
É apenas nesse ponto ― e só aí, que essa coisa de chamar terroristas a todos aqueles que, por esse mundo fora, não estão por nós começa a tornar-se no mínimo ridícula ― que nós apoiamos o repto do Tugir.
Isto é, o facto do secretário-geral do PCP se considerar “solidário com o ideário do partido comunista colombiano e com a revista Resistência" ― que não escondem as suas ligações às FARC ― seria um bom motivo para que intercedesse junto da guerrilha comunista contra a legitimidade dos métodos que Jerónimo de Sousa diz reprovar. -
Alguém do TUGIR (ou dos seus apoiantes!!!)me pode explicar porque razão nunca criticaram a morte de setenta (70!!!) sindicalistas comunistas colombianos pelas forças de segurança governamentais? Ou será que chegámos ao ponto de que a vida de um comunista não tem valor comparada com a dos outros?De , em setembro 08, 2006 3:22 da tarde
Se calhar é isso!!!!! -
A realidade da colômbia é bem mais complicada do que uma guerrilha a enfrentar um estado. Há um estado que reprime uma luta armada lutando legitimamente pela autodeterminação, ao mesmo tempo Uribe deixa impunes todos os produtores de droga, é manipulado pelo governo dos EUA que, sob a desculpa de ir desmantelar cartéis, utiliza meios bárbaros para martirizar a população que apoia as FARC. As FARC, por outro lado, não tendo de hipótese de lutar de igual para igual com um exército americano/colômbiano que se limita a vir pelo ar e descarregar bombas em cima das populações das aldeias da selva, vê-se obrigada a utilizar meios iliegítimos como rapto de civis (que, diga-se de passagem, são muito bem tratados para as condições vigentes - isto segundo os próprios). Entretanto, as FARC, adoptando uma política de compreensão para com a produção de droga (uma boa parte do país vive daquela indústria, seja ela agrícola, comercial, manufactura ou transformação), sabe bem que todo esse negócio de coca serve apenas para alimentar massivamente dois mercados ... os EUA e a EU. Curioso.De JD, em setembro 08, 2006 3:38 da tarde
Ao mesmo tempo, inúmeras forças ilegítimas armadas raptam pessoas com o único propósito de banditismo e resgate monetário (30 000 por ano), sendo todas essas atribuídas pelo governo de Uribe às FARC.
No meio de tudo isto FARC e governo negoceiam constantemente soluções políticas.
Podemos acusar as FARC de raptar inocentes, podemos acusá-las de se financiar em actividades menos dignas. Temos no entanto de admitir que elas lutam por um ideal popular há 40 anos, que existe um povo à procura de soberania e respeito pela sua própria cultura por trás delas, que as apoia e lhes dá razão de existir enquanto guerrilha, existe um governo vendido ao norte que ataca sem piedade qualquer que seja a manifestação comunista no país, que mata sindicalistas através de mercenários, que fustiga toda e qualquer luta progressista com guerras terroristas de estado. Todas estes factores dão razão às FARC. E foi com muito prazer que fui visitar esses comunistas e guerrilheiros no Avante. Foi com redobrado prazer que vi comunistas que se vêem obrigados a empunhar armas para lutar pela liberdade e o fazem sem medo. Que renunciam à família, às comodidades de uma vida urbana, e oferecem o peito às balas por uma causa, que é a mesma de Fidel, de Che, de Allende, dos Zapatistas, enfim, de tantos focos libertários que por aí eclodem e eclodiram.
Com o mesmo prazer com que olhei as FARC, vi a meu lado a representação do partido comunista de Salvador, cujos corpos estarão cheios de feridas impostas pelo imperialismo, mas que lutaram pelo comunismo como foi urgente naquele local naquele tempo.
Nós lutamos com o voto, com a campanha de ideias, com a razão. Se isto nos for vedado, espero ter a coragem desses grandes homens das FARC, do Exército Zapatista, de todos os revolucionários da América Latina a quem, depois de acumularem algumas vitórias justas e leais, e tantas derrotas desleais e sub-humanas, continuam a aguentar a chama da resistência.