quarta-feira, outubro 04, 2006

O reino da mentira

Além de vivermos com medo (medo do desemprego, medo das doenças, medo da miséria material, medo da violência /terror, medo das catástrofes naturais, medo do diabo a quatro...), também vivemos sob o signo da mentira.
Vivemos (ou vegetamos?) atolados até ao pescoço no medo e na mentira, ou seja, vivemos na merda, para ser curto e grosso.
A mentira reina por aí sem freio e sem vergonha.
E, se não, vejamos:
― A administração WC Bush invadiu um país soberano pretextando para tal um chorrilho de mentiras. Mentiram antes, mentiram durante e continuam a mentir depois – e vão aos poucos, nas calmas, admitindo agora que afinal não existiam armas de destruição maciça, admitindo depois que a Al Qaeda não tinha ligações ao governo dos invadidos, admitindo mais recentemente que certos prisioneiros da “luta anti-terrorista” são “interrogados” em prisões secretas, enfim, tudo isto na maior, no problem, “God is our side” (e o Papa também, já agora...); ― No Brasil, Lula e o PT estiveram convencidos, até domingo passado, que a mentira, a corrupção, a vigarice e a falta de vergonha na cara compensavam e que, por isso, iam ganhar as eleições logo à 1ª volta, fortalecendo assim, voluntária ou involuntariamente, a ideia generalizada de que, de esquerda ou de direita, “eles” são todos iguais e que, assim sendo, mal por mal, vale mais apostar nos que mentem e roubam, mas fazem...;
― Aqui, em Portugal, a gente ainda se lembra que os dois últimos governos eleitos (para não ir mais longe) prometeram, antes das eleições, não subir os impostos, por exemplo, e, depois, foi o que se viu...
Portanto quando, na Hungria, o actual primeiro-ministro confessa em privado “Mentimos de manhã à noite e em quatro anos não fizemos nada”, eu lembro-me do que escreveu o poeta inglês Alexander Pope, "Quem diz uma mentira não sabe que tarefa assumiu, porque fica obrigado a inventar mais vinte para sustentar a certeza da primeira", e penso, cá para mim, que a mentira está tão generalizada que até os mentirosos começam a fartar-se dela. Resta saber se os enganados também estão a ficar fartos de o ser...